- Comentar
Por coincidência, o Gabinete de Segurança para a Prevenção e Combate à Violência contra os Profissionais de Saúde começou a funcionar a 2 de março do ano passado, o mesmo dia em que a Covid-19 chegou a Portugal. Esta estrutura foi criada pelo governo e funciona junto do junto do Ministério da Saúde, sob comando da PSP.
"A pandemia condicionou um pouco o trabalho que se pretendia e esta primeira fase foi de diagnóstico da situação", explica à TSF o subintendente Sérgio Barata.
O Serviço Nacional de Saúde é composto por cerca de 140 mil profissionais que, estima-se, produzem anualmente 60 milhões de interações com os utentes do SNS. "A saúde é uma atividade que lida muito de perto com o sofrimento e por isso acontecem conflitos", enquadra Sérgio Barata.
Neste ano de pandemia foram registados 825 episódios no sistema de notificações de violência contra os profissionais de saúde que existe há vários anos no SNS. Em 2019 tinham sido 950 denúncias.
Apesar desta redução de 13%, o coordenador do Gabinete de Segurança refere ter encontrado "muitas situações que não são notificadas", seja pelo "desvalorizar da situação" ou pela falta de tempo porque o profissional de saúde "já está a atender outra pessoa e não denuncia".
Subscrever newsletter
Subscreva a nossa newsletter e tenha as notícias no seu e-mail todos os dias
O responsável da PSP lembra que não são apenas médicos e enfermeiros os alvos da violência. O problema afeta também os assistentes técnicos, os assistentes operacionais, os técnicos de diagnóstico e terapêutica e os assistentes sociais, pelo que a violência existe "não apenas nos gabinetes, mas também ao balcão".
As formas de violência mais comuns são a agressão verbal, as injúrias e as ofensas que representam mais de 60% das denúncias. Seguem-se a violência física (13%), a violência patrimonial e "alguns casos de assédio".
Segundo Sérgio Barata, existem atualmente "novos meios de perpetuar a violência", como as redes sociais, telefonemas, emails. Situações que obrigam a polícia a estar mais atenta, mas que também dependem da proatividade dos visados que "devem queixar-se".
Neste primeiro ano de atividade, o Gabinete de Segurança criou redes de contacto entre as forças de segurança e as unidades de saúde, de modo a que cada uma saiba o interlocutor que tem em caso de necessidade.
Foi também feito um inquérito de segurança, ao qual responderam 108 instituições de saúde. A PSP iniciou visitas para avaliar a segurança de hospitais e centros de saúde e já começou a fazer recomendações de melhorias arquitetónicas e detalhes que podem marcar a diferença. Por exemplo, "a secretária onde está o profissional de saúde deve estar perto da de saída para que este possa fugir de um conflito sem ter de passar pela pessoa que o crer agredir".
