José Pereira Lima, de 71 anos, filho de pasteleiro, antigo serralheiro, emigrante em França, anda há 40, na sua velha carrinha "do tempo da guerra" a deliciar várias gerações de clientes em Viana do Castelo. Fabrica gelados, alguns com fruta do seu próprio quintal, e vende-os, hoje em dia estacionado junto à antiga praça de touros da cidade e à praia fluvial da Argaçosa. Quando a sua carrinha azul e branca aparece, novos e velhos formam fila para provar ou relembrar antigos sabores.
"Olá senhor Lima, quero um gelado com quatro sabores, por favor: limão, maracujá, banana e manga", pede Diogo Rocha de 35 anos, cliente habitual de Viana do Castelo. "Já venho aos gelados desde que era miúdo. O senhor Lima já me conhece, a mim, aos meus pais e à minha filha agora também. São pelo menos três gerações da minha família", recorda.
José Pereira Lima dedicou-se aos gelados em 1983. Foi o pai, profissional de pastelaria, que fabricava gelados e se tornou vendedor ambulante, que o meteu no negócio, quando este regressou de França. Durante muitos anos, estacionou junto às escolas da cidade e, nos meses de verão, na Praia Norte. Depois passou-se para a Argaçosa. Por isso, os seus gelados tornaram-se uma tradição, que passa de geração em geração. E hoje não há verão em Viana do Castelo sem os gelados do "senhor Lima".
"Tenho como clientes os bisavós, de 70 e 80 anos, com os bisnetos ou trisnetos, que tem agora dois ou três anos. Isso é que é bonito", conta, num dia de calor a rondar os 40 graus à sombra, com a sua carrinha estacionada no sítio do costume.
"Hoje há chocolate, baunilha, morango, limão, maracujá, meloa, banana, manga ananás, café, pistácio, menta e marshmallow, que é o gelado azul", descreve à clientela.
O sabor a meloa é o seu "top de vendas" e o de limão é fabricado com sumo e raspa dos limões do seu limoeiro. Às vezes, faz gelado de coca-cola ou inventa um novo.
Por norma, ninguém leva um sabor só. E o "senhor Lima" gosta de improvisar misturas de cores e sabores e de enfeitar os cones ou os copos cheios, no final, com topping e pepitas de chocolate. Alguns clientes nem precisam pedir, porque a tradição de ir aos gelados é tão antiga quanto a sua carrinha "Ebro". "É de fabrico espanhol, do tempo da guerra. É única, se calhar até já não há mais nenhuma destas. Vejo-me aflito quando avaria, porque não há peças", comenta, orgulhoso do seu veículo e também dos seus gelados que já lhe disseram "são os melhores do mundo".
"Quando vejo as crianças e não só, virem aqui e à primeira lambidela, dizerem 'hmmmm', para mim está tudo dito", afirma, sorridente, justificando o que o faz continuar a ser vendedor ambulante de gelados aos 71 anos de idade.