Entre-os-Rios, 20 anos depois: o corpo que um pai não viu e o quarto que continua intacto

O filho e a nora de Manuel Gonçalves estavam num carro que caiu ao rio. Os pais do motorista do autocarro acidentado ainda não mexeram no quarto do filho.

O dia 4 de março continua a ser "muito complicado". Vinte anos depois da tragédia que ceifou 59 vidas em Entre-os-Rios, os aniversários da queda da ponte Hintze Ribeiro "abrem mais uma fenda numa ferida que está a tentar cicatrizar", mas nunca chega a fazê-lo.

O filho de Manuel Gonçalves estava entre os que perderam a vida. Fala à TSF à sombra de algumas árvores: são 59 amendoeiras, "cada uma representa uma vítima".

A escolha da espécie ali plantada não foi fruto do acaso. Entre os veículos que caíram ao rio estava um autocarro. Nesse autocarro estavam excursionistas que tinham ido ver "as amendoeiras em flor" e regressavam, na hora fatídica, a casa.

Mas na ponte estava também um carro e, nele, vinham o filho e a nora de Manuel Gonçalves. Os corpos apareceram um mês depois, facto que traz algum descanso a este pai.

"Pelo menos sabemos que eles estão ali, tanto o meu filho como a minha ex-nora. Há famílias que não sabem dos corpos", assinala. "De certeza absoluta que, infelizmente, nunca mais aparecem e isto não é fácil."

Para essas famílias "está a ser muito complicado fazer o luto". A irmã do condutor do autocarro, Hélder, está "a fazer tratamentos psiquiátricos". Os pais do motorista "ainda hoje têm o quarto direitinho, consoante o Hélder o tinha na altura".

"Já passaram 20 anos, veja-se o sofrimento daquela família", pede Manuel, que não esconde também aquilo que ainda enfrenta. A vida "não tem sido fácil" também para a sua família.

Nunca chegou a ver o corpo do filho. "Não me deixaram", conta. "Parece que uma pessoa está sempre à espera que chegue algo que nunca chega."

Vinte anos depois, ainda há mais de 30 corpos por encontrar.

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