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Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, admite que os cálculos de Manuel Carmo Gomes batem certo com o que se passa no terreno. A dificuldade em controlar as cadeias de transmissão de Covid-19 é notória.
Ouça a análise de Ricardo Mexia aos números.
"É um facto que há um número muito significativo de inquéritos epidemiológicos que não são possíveis fazer no próprio dia, isso é verdade, porque as unidades não têm os recursos necessários para responder à procura. Se a situação está fora de controlo? Em duas semanas mais do que duplicou o número de casos diários. Acho que as pessoas podem tirar as suas próprias conclusões. A conclusão que eu tiro é que podíamos ter feito mais, podíamos ter preparado a resposta para aquilo que era um aumento previsível dos casos, e continuamos a dizer que vamos fazer, que vamos acontecer... Em vez de sermos proativos, somos reativos. E quando somos reativos vamos sempre a correr atrás do prejuízo. Neste momento, a situação está muito, muito complicada. Por isso, se não conseguimos fazer os inquéritos epidemiológicos em tempo útil, então a situação está fora de controlo."
Ricardo Mexia considera que há um descontrolo da situação.
O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública aponta o dedo ao Governo, a quem acusa de prometer e não cumprir. Nomeadamente no que diz respeito ao reforço de meios humanos, para que se possa, de facto, controlar as cadeias de transmissão.
"Já vai haver novos recursos há muito tempo. Eles tardam em chegar. Portanto, as unidades estão em absoluta sobrecarga, com muita dificuldade em dar resposta às solicitações. Não é com despachos que a situação se resolve."
Para Carla Nunes, da Escola Nacional de Saúde Pública, as estimativas de Manuel Carmo Gomes são perfeitamente realistas.
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Ouça a análise de Carla Nunes.
"Se não houver alteração da curva, e com o que se está a passar, esses números não me admiram."
Carla Nunes antecipa os próximos tempos.
Questionada sobre a necessidade de mais medidas restritivas, como o recolhimento obrigatório, Carla Nunes afirma que "não basta uma única medida. É preciso um conjunto de medidas. E a população tem de ter condições para as seguir".
Ouça a perspetiva de Carla Nunes sobre as medidas a tomar.
Carla Nunes considera que ainda é cedo para equacionar um novo confinamento obrigatório. Será, diz, "a última saída, mas é algo que se está a ver noutros países. Sendo que agora, ainda é possível evitar isso, ao que acresce o facto de que agora seria muito pior a todos os níveis. Seria mais agressivo, sobretudo do ponto de vista mental, porque as pessoas estão desgastadas".
