Estado comparticipa fármaco para emagrecer como antidiabético

Os medicamentos para a diabetes são comparticipados, mas para a obesidade não. A TSF ouviu representantes de diabéticos e endocrinologistas que pedem a intervenção das autoridades para regrar o que é já um fenómeno em vários países.

A procura desmesurada começou no lugar onde começam as modas, em L.A., Hollywood. Foi descrito nas revistas de celebridades como "o segredo mais mal guardado para emagrecer". Mais recentemente, uma campanha na rede social Tik Tok, com raparigas sorridentes e magras a injetarem-se na barriga com este fármaco para a diabetes tipo 2, gerou centenas de milhões de partilhas.

O laboratório dinamarquês não tem tido capacidade de responder a tamanha procura e o fármaco vai escasseando.

Em Portugal, há meses que os doentes com diabetes tipo 2 andam em peregrinação, de farmácia em farmácia, à procura da substância ativa semaglutida, produzida pela dinamarquesa Novo Nordisk.

O presidente da Associação Protetora dos Diabéticos considera que se trata de um medicamento eficaz para controlar os níveis de glicémia no sangue, pelo menos em parte dos doentes, mas já percebeu que o aumento da procura nas farmácias é por outros motivos.

"Em muitas farmácias do país há um aumento de procura por causa da obesidade", explica à TSF José Manuel Boavida.

"Trata-se de um medicamento indicado apenas para a diabetes, mas acaba por ser eficaz também para combater a obesidade. Pelo menos enquanto se toma, porque quando a pessoa deixa de tomá-lo volta ao peso inicial", esclarece.

O medicamento não é de venda livre, tem de ser receitado por um médico. Mas como só tem comparticipação quando é prescrito a diabéticos, há médicos, admite José Manuel Boavida, que o "prescrevem a pessoas com problemas de obesidade como antidiabético".

Uma situação admitida também pelo Presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia.

À TSF, Jácome de Castro afirma que este fármaco tem sido "um sucesso de vendas, porque, ao contrário de outros tratamentos para a obesidade, a semaglutida tem-se mostrado eficaz, mas não revela efeitos secundários graves".

Tamanha procura, nos Estados Unidos, na Europa, mas também no Brasil ou em Israel, apanhou o próprio fabricante desprevenido, mas "a situação deve estar normalizada no início de 2023, pela indicação que temos".

Jácome de Castro afirma que, perante a situação a que se chegou, "é importante haver uma intervenção do Infarmed e do Ministério da Saúde para definir quem pode prescrever o fármaco e a que doentes".

"O problema é que 64% da população tem problemas de obesidade, mas o Estado não pode comparticipar este medicamento para todos", aponta o endocrinologista. É preciso definir "com rigor, quem pode beneficiar do desconto e que médicos o podem prescrever".

O medicamento custa 120 euros e é comparticipado pelo Estado a 85%, mas só quando é receitado a diabéticos.

Num esclarecimento conjunto enviado à TSF, o Ministério da Saúde e o Infarmed afirmam estar "a acompanhar" a situação "no sentido de garantir a adequada utilização do fármaco indicado para o tratamento da diabetes", adiantando que a Comissão Nacional de Farmacêutica e Terapêutica se encontra a elaborar uma orientação sobre a utilização do fármaco em causa.

Paralelamente, "estão também a ser desenvolvidos alertas a inserir na Prescrição Eletrónica de Medicamentos".

Acrescenta ainda a nota que o medicamento em causa "atravessa um período de escassez", que decorre de "um enorme aumento de procura registado em Portugal e a nível mundial". Estes problemas de escassez resgistam-se em todos os mercados europeus e nos EUA, uma situação que "deverá continuar em 2023", assumem a tutela e o Infarmed.

Perante esta situação, "é desaconselhada a prescrição de tratamentos para novos doentes" com o fármaco e recomenda-se aos doentes que "consultem o seu médico para a indicação de alternativas terapêuticas disponíveis".

Notícia atualizada às 9h10, com o esclarecimento do Infarmed e Ministério da Saúde

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