"Exaustos" e com um "espinho cravado na pele". Médicos de família querem adiar consultas

Médicos não conseguem acompanhar mais de 70 mil doentes covid, ativos, e fazer tudo o que já faziam antes.

A associação que representa os médicos de família alerta que é urgente adiar consultas de vigilância e todo o tipo de tarefas desnecessárias. A covid-19 dá cada vez mais trabalho, os infetados não param de aumentar e muitas funções são consideradas absurdas, deixando os médicos "exaustos", com a Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar a acrescentar que há profissionais que já estão em burnout.

O presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar sublinha que são os médicos de família que acompanham todos os casos de Covid-19 isolados em casa, ou seja, nesta altura, com o escalar da pandemia, mais de 70 mil pessoas, para além de alguns outros milhares de utentes que ainda não têm resultado positivo mas aguardam 'notícias' sobre o seu teste.

"Loucura" e "um espinho"

Rui Nogueira admite que "tem sido uma loucura de trabalho porque temos de recuperar o tempo que perdemos em março, abril, maio, com limitações às consultas, mas agora temos os doentes em isolamento, três vezes mais do que aconteceu no pico de abril, e ainda a necessidade de dar resposta às necessidades dos outros doentes. É um volume grande, enormíssimo, de trabalho".
No meio de inúmeros problemas há um que se destaca porque irrita, visivelmente, os médicos de família: a plataforma informática, com o nome de Trace Covid, para detetar e a seguir ligar, diariamente, a todos os casos de coronavírus, numa tarefa considerada "redundante", na maioria dos casos, e absurdamente trabalhosa.

"Ao abrir cada nome de cada doente com covid-19 da minha unidade tenho de ir ver o médico de família a quem pertence... Isto é obsoleto, chega a irritar, é um espinho que temos cravado na pele e que não conseguimos tirar... Não faz sentido não ter acesso direto aos meus doentes", afirma Rui Nogueira.

"Bournout"

O presidente da Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar também confirma que a 'manta' não chega para tudo e que até já há profissionais dos cuidados de saúde primários em bournout.

Diogo Urjais diz que estão "sobrecarregados com tarefas que em vez de estabilizar têm progressivamente aumentado e nalguns casos os recursos humanos têm diminuído com alguns profissionais em bournout"

É preciso fazer tudo o que é covid, não covid e tarefas burocráticas, numa carga de trabalho "enorme" e numa "tempestade perfeita" que "ou pára ou pode ter consequências bem danosas para os profissionais e para os utentes", avisa o representante dos cuidados de saúde primários.

"Adiar consultas" e não chega

Rui Nogueira detalha que, 'perdidos' no meio do Trace Covid e em telefonemas intermináveis, cada médico demora cerca de duas horas a encontrar e depois a ligar a perto de 10 doentes com covid-19.

Além de mudar, urgentemente, este sistema informático é preciso adiar aquilo que for possível adiar.
"Consultas de vigilância que podem ser adiadas para daqui a 6 meses ou qualquer outra consulta que após contacto com os doentes se perceba que possa ser adiado", defende o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar que acrescanta que por muito que queiram não há hoje margem para consultas de rotina.

Rui Nogueira também reclama mais meios humanos - não apenas médicos, mas também assistentes e enfermeiros - e o fim de tarefas burocráticas - passar certidões ou atestados - que roubam imenso tempo numa época em que ele escasseia. Tudo, defende, para que os centros de saúde e as unidades de saúde familiar não rebentem com esta segunda vaga da pandemia.

LEIA AQUI TUDO SOBRE A PANDEMIA DE COVID-19

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