Falta de enfermeiros? "Enquanto não acontecer nada muito grave vão continuar a desvalorizar"

Pedro Costa, presidente do sindicato dos enfermeiros, afirma que a escusa de responsabilidade é "um grito de alerta" e defende que os conselhos de administração deveriam "adequar" a prestação de cuidados tendo em conta os profissionais disponíveis ou, até mesmo, "reduzir a resposta".

O sindicato dos enfermeiros teme que seja preciso acontecer uma tragédia para que os conselhos de administração dos hospitais percebam as consequências da falta de recursos humanos. Na terça-feira, mais de 60 enfermeiros do Serviço de Urgências do Hospital de Abrantes pediram escusa de responsabilidade, alegando que faltam profissionais para garantir a segurança dos cuidados prestados.

Em declarações à TSF, Pedro Costa, presidente do sindicato, não esconde a preocupação: "Numa altura em que nos aproximamos de um período crítico, com o inverno, preocupa-me, em primeiro lugar como cidadão e como representante dos enfermeiros também."

"Nós passamos por isto há largos meses, sem fim à vista. Cada vez mais são apresentadas escusas de responsabilidade. Enquanto não acontecer nada muito grave, vamos continuar a ter os conselhos de administração a desvalorizarem aquilo que é o mais importante, que é a segurança dos profissionais e a excelência nos cuidados que são prestados aos utentes", defende.

O presidente do sindicato dos enfermeiros defende que as administrações hospitalares devem adequar a prestação de cuidados aos profissionais disponíveis e, se necessário, reduzir a resposta.

"A situação de Abrantes é uma situação que se vai replicar no tempo e noutras instituições. A escusa de responsabilidade é um grito de alerta no sentido de dizer que não estão reunidas as condições necessárias para a segurança dos profissionais e na prestação de cuidados aos utentes", refere, sublinhando que "é importante que os conselhos de administração vejam isto como uma melhoria da sua capacidade de resposta, de perceberem o que podem fazer para que não exista uma rutura, porque não basta dizerem que estão assegurados os cuidados à população".

"Se o profissional, de alguma forma, cair por exaustão, aquele profissional deixa de prestar cuidados e o que é que o conselho de administração vai fazer? Vai continuar a ter o problema de ter que atender os utentes. Era importante os conselhos de administração perceberem que, muitas vezes, é preferível reduzir ou adequar a resposta às condicionantes que temos do que dizer à população: 'vocês venham, os profissionais estão cansados mas vão atender-vos na mesma'", afirma.

Apesar de a ministra da Saúde, Marta Temido, estar demissionária, o sindicato diz que as negociações com o Ministério mantêm-se e a próxima reunião está marcada para o dia 14 de setembro.

"Julgamos que o Governo não vai cometer o erro de deitar por terra algo que faz parte do programa que tem, porque isto ainda vai criar mais instabilidade nos profissionais e naqueles que lutam diariamente para prestar cuidados aos portugueses e achamos que devem, acima de tudo, respeitar o que já foi feito até agora", acrescenta.

De acordo com a Ordem dos Enfermeiros, mais de 6500 enfermeiros pediram escusa de responsabilidade até ao dia 18 de agosto, a nível nacional, sobretudo por falta de profissionais para garantir a segurança dos cuidados prestados.

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