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O recrutamento dos futuros polícias vai passar a incluir testes de personalidade para despistar eventuais ligações à extrema-direita ou comportamentos contrários ao Estado de Direito, mas Otávio Raposo, sociólogo e antropólogo que tem feito vários trabalhos de investigação nos bairros da periferia de Lisboa fala num problema estrutural que não se resolve com estes testes.
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"Até que ponto não é só para inglês ver?", questiona o investigador e professor do ISCTE quando questionado sobre os anunciados testes de personalidade aos candidatos às forças de segurança. Para Otávio Raposo, o racismo é um problema enraizado. "Muitos de nós, tanto enquanto investigadores, como enquanto ativistas, dizemos que há um racismo institucional, um racismo estrutural. O problema não está só no mau polícia que acaba por exercer brutalidade policial motivado por ódio racial, mas está na sua estrutura, na sua chefia que acaba por normalizar esses episódios que são recorrentes", afirma à TSF.
Otávio Raposo dá o exemplo do arquivamento dos processos disciplinares a agentes de Alfragide acusados de agressão e sequestro e o que se passou em Odemira com a GNR.
Ouça a conversa com Otávio Raposo
"O que ocorreu em Odemira é bem exemplar da violência que principalmente migrantes, negros e ciganos acabam por sofrer e se formos, por exemplo, para um bairro da periferia de Lisboa, já fui a muitos e conheço muitos e já fiz diversas pesquisas, infelizmente essa violêcia é quotidiana."
"É preciso haver um reconhecimento desse problema, do problema da brutalidade policial para a partir daí combater o problema de existirem elementos da extrema direita infiltrados nas forças policiais, não só com testes de personalidade, mas com auditorias e condenações exemplares", defende o sociólogo e antropólogo que lamenta a postura das chefias. "Todas as declarações dos oficiais e da polícia vão no sentido de afirmar que não existe racismo dentro da polícia." E enquanto assim for, lamenta Otávio Raposo, de pouco vai servir fazer testes de personalidade aos candidatos às forças de segurança.
Em dezembro, a Inspeção-Geral da Administração Interna anunciou alterações no recrutamento dos candidatos à PSP, GNR e SEF com os candidatos a serem sujeitos a testes de personalidade para despistar eventuais ligações à extrema-direita ou comportamentos contrários ao Estado de Direito. Os novos critérios de seleção inserem-se no Plano de Prevenção de Manifestações de Discriminação nas Forças e Serviços de Segurança, um documento elaborado pela IGAI e que conta com a participação das três instituições, Polícia de Segurança Pública, Guarda Nacional República e Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
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