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O cuidado (com os outros) em tempos de pandemia. Nem o isolamento social imposto pela chegada da Covid-19 a Portugal acabou com o sentido de comunidade em localidades de todo o país.
Ouça a reportagem da jornalista Sara de Melo Rocha.
A ideia de uma rede comunitária para, à escala de cada bairro, levar aos que não podem sair de casa os bens essenciais de que necessitam nasceu em 2009. A ameaça era, nessa altura, a gripe A, e Graça Margarido sentiu-se então inspirada para começar a ajudar. "Eu tive gripe A e o meu marido também; os meus filhos eram pequeninos nessa altura", lembra.
"Ficámos sem pasta de dentes, e foi uma vizinha que nós não conhecíamos que nos ajudou e levou os miúdos à escola, porque eles não estavam doentes." Assim germinou a ideia. Graça Margarido divulgou então a disponibilidade num grupo de Facebook dirigido aos vizinhos do Areeiro, em Lisboa.
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A resposta foi imediata: "Eu não sou muito ativa no Facebook. Nunca na vida tinha tido nada com tanto impacto." E o resultado foi exatamente o que esperava e "era necessário, que era chamar a atenção para o facto de todos precisarmos uns dos outros".
Agora, com uma nova quarentena estendida a todo o país, são muitos os grupos informais que começam surgir para dar resposta à Covid-19, para o caso de ser "preciso que alguém vá levar compras ou medicação - claro que não é para entrar na casa de ninguém, há de ser para deixar na porta, por exemplo" -, explica Graça Margarido à TSF.
"Alguém vai à rua hoje? Será que me podem trazer aquilo de que preciso?" Foi para dar resposta a estas perguntas que Graziela Sousa, residente no bairro de Santa Engrácia, criou um formulário online que pode ser preenchido por quem precisa de ajuda. "Se alguém quiser inscrever o seu nome, o bairro e a morada - só para eu ver -, eu posso depois organizar por bairros", acrescenta.
Além de disponibilizar a rede de distribuição informal de alimentos e fármacos, a iniciativa vem também, nem que seja por momentos, contrariar a sensação de isolamento social. "Penso que esta questão do isolamento é muito forte e muito premente. Nem toda a gente tem amigos cá, nem pessoas a telefonar todos os dias, mas, se eu souber que as cinco pessoas do meu bairro estão bem, eu também fico descansada."
O apoio entre vizinhos tem vindo a surgir naturalmente um pouco por todo o lado: seja através de um papel na parede do prédio ou
de um alerta num grupo de Facebook. Tudo para que o país não mergulhe numa quarentena absoluta e para que o sentido de comunidade se mantenha.

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