É hora de "esperança" e de "arrumar a casa". O hospital de campanha no São João, no Porto, foi desmontado, porque não se espera "nenhuma vaga com a dimensão das que já tivemos".
Dois técnicos da equipa de manutenção do hospital de São João colocam uma película autocolante a tapar uma placa com a inscrição "Atendimento Covid". É apenas uma das tarefas que ocupam a manhã de muito trabalho. Aos poucos, a estrutura amarela, que se estendia por 300 metros quadrados e que se manteve erguida ao longo de 18 meses, deixou de ser visível. Todas as 25 tendas desmontadas, os plásticos, dobrados e enrolados, encontram-se à entrada, no jardim, como pequenas carapaças de tartaruga, que se destacam do verde.
"Significa que é o encerrar de um ciclo." É assim que Nelson Pereira, diretor da Urgência Covid, do hospital de São João, traduz a imagem. "Foram 18 meses de grandes provações a nível global, nacional, e obviamente também no nosso hospital, foram muitos milhares de doentes que nos procuram." Os números expõem a dimensão do desafio: mais de sete mil pacientes diagnosticados com Covid-19 nas urgências do São João e 700 profissionais de saúde envolvidos na resposta.
A estrutura desmantelada não é sinónima de uma pandemia derrubada. Para Nelson Pereira, este é o "momento de virar a página, mas não de baixar a guarda", mas 18 meses de experiência "permitem agora olhar para o futuro com uma resposta estruturada".
"Não esperamos nenhuma vaga com a dimensão das que já tivemos", admite o diretor da Urgência Covid, que antecipa flutuações para o outono e o inverno, mas está convencido de que "o pior já passou" e de que esta estrutura do INEM não será mais necessária". Os contentores já não estão a funcionar, mas vão manter-se no local, enquanto a direção do hospital aguarda para ver como vai evoluir a situação. Tudo indica que o volume de doentes possa agora ser enfrentado dentro do hospital.
O início da resposta extraordinária, a 7 de março de 2020, não é, no entanto, esquecido. "Foi uma noite muito longa, foi o marcar de uma abordagem diferente, que diziam ser precipitada", rememora Nelson Pereira.
Luís Meira, presidente do INEM, lembra também um trabalho de profícua entreajuda. "Para nós foi relativamente fácil colocar esta estrutura. As estruturas não são nada sem os profissionais, que tiveram o trabalho mais duro." O responsável afirma que, em março de 2020, esta "foi uma resposta inovadora".
"Em março de 2020 ainda não sabíamos o que estávamos a enfrentar", assinala, declarando que hoje os profissionais de saúde já têm o "conhecimento suficiente, porque este tempo permitiu que os circuitos internos fossem melhorados".
Sem excesso de otimismo, Luís Meira alerta também que a OMS ainda não declarou a pandemia como terminada, e, caso haja necessidade, em 24 horas o INEM consegue voltar a colocar de pé a estrutura. Para que tal não seja necessário, avisa, os portugueses devem manter "alguma cautela, cuidado e as precauções necessárias". Mas este é - não nega - "um sinal de esperança".
A ministra da Saúde, Marta Temido, olha para o desmantelamento do hospital de campanha com olhos mais práticos. É preciso "preparar, planear, arrumar a casa", garante. "Cada instituição teve, no domínio da sua autonomia, a procura de soluções de resposta àquilo que foi o crescimento da pandemia." Por isso, a governante vê como "natural" esta decisão, mesmo "com o patamar de relativa estabilização ainda elevado, e apesar de nós sabermos que teremos uma prova agora, com o regresso ao ano de trabalho, não é só ano escolar, há risco no horizonte".