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O presidente do Conselho Nacional de Supervisores Financeiros (CNSF) e governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, advertiu esta sexta-feira para a necessidade de "estar atento aos riscos da digitalização", e em particular do cibercrime.
"Reconhecendo os benefícios da transição digital, importa estar atento aos riscos da digitalização, em particular do cibercrime", disse esta sexta-feira Mário Centeno na conferência do Plano Nacional de Formação Financeira 2021-2025, que decorre no Museu do Dinheiro, em Lisboa.
As orientações estratégicas do plano estão esta sexta-feira a ser apresentadas e ficarão disponíveis para consulta no site todoscontam.pt, prosseguindo os dez anos de articulação no projeto entre as entidades que fazem parte do CNSF: Banco de Portugal, Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) e Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), aliadas a vários parceiros institucionais.
O governador do Banco de Portugal considerou "fundamental que os cidadãos adquiram as competências digitais necessárias para aceder e contratar os produtos financeiros em segurança".
"É essencial promover a formação financeira digital, contribuindo para a utilização segura e confiante dos produtos e serviços financeiros digitais e para a adoção de comportamentos de prevenção da fraude 'online'", acrescentou Centeno.
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O governador do BdP disse ainda que "também é muito importante evitar o risco da exclusão financeira por via da exclusão digital", considerando que a formação também tem "um papel importante a desempenhar no reforço da resiliência financeira das famílias e das micro e pequenas empresas".
Na mesma sessão de apresentação, o vice-governador do Banco de Portugal Luís Máximo dos Santos reforçou a mensagem, alertando que, apesar dos canais digitais serem "muito convenientes" e proporcionarem "maior rapidez aos consumidores no momento de contratar produtos e serviços", encerram riscos.
"A sua utilização deve ser acompanhada da adoção de medidas de precaução e mitigação de riscos, sob pena de os consumidores virem a ser alvo de tentativas de fraude e cibercrime que provocam custos imediatos para as vítimas", alertou.
Luís Máximo dos Santos lembrou que a pandemia de Covid-19 reforçou a utilização dos canais digitais, "mesmo entre os consumidores que habitualmente o não faziam, por possuírem menos competências digitais ou por receio dos riscos associados".
"Esta franja da população ficou mais vulnerável à fraude, e infelizmente há sempre pessoas à espreita de oportunidades à custa do prejuízo dos outros", considerou.
Já a presidente da ASF, Margarida Corrêa de Aguiar, focou a sua intervenção em fatores demográficos mais estruturais.
"O aumento da longevidade está a forçar a uma alteração na forma como o rendimento e o consumo são distribuídos ao longo do ciclo de vida. É necessário gerar mais rendimento, e/ou acumular mais poupança durante a vida ativa", elencou.
Segundo a presidente da ASF, "em termos históricos, Portugal apresenta um perfil de poupança dos particulares relativamente baixo, que conjugado com as perspetivas de envelhecimento da população, nos convoca a agir em relação à adequação dos rendimentos nas idades mais avançadas".
Margarida Corrêa de Aguiar relembrou que em Portugal "a taxa de poupança das famílias, de 9,5% em junho, de acordo com o Eurostat, continua consistentemente abaixo da média da União Europeia, que se situava em 18,1%".
A presidente da ASF também relembrou que segundo um inquérito do Banco Central Europeu (BCE) de 2017, "a percentagem de famílias com planos voluntários de pensões e/ou seguros, em Portugal, era igual a 13,2%, menos de metade da percentagem apurada para a área do euro, 28,4%".
"Estes indicadores sugerem que o reforço da resiliência financeira passa também pela tomada de consciência para a necessidade de poupar para o futuro, de forma a criar redes complementares de segurança que permitam envelhecer com dignidade", sustentou.
No final das intervenções de abertura, Rui Pinto, administrador da CMVM, focou-se na questão da sustentabilidade, salientando que "são cada vez mais os investidores, emitentes e aforradores" que incorporam este tipo de fatores "como elemento central nas suas decisões".
"A existência de um mercado credível e dinâmico de financiamento sustentável, fortemente mobilizador de capital, requer que esta transição seja acompanhada de uma adequada divulgação de informação em matéria de sustentabilidade, e integração e gestão dos riscos de sustentabilidade nos processos de decisão de investimento por parte das empresas do setor financeiro e não financeiro", considerou.
O administrador da CMVM referiu-se especificamente à garantia de que "o capital investido em produtos que incorporam princípios de sustentabilidade se traduz realmente num impacto positivo no ambiente ou na sociedade".