Investigadoras identificam atividades tradicionais em risco no Algarve e recebem prémio

O prémio Manuel Gomes Guerreiro vai ser atribuído no 43.º aniversário da Universidade do Algarve.

As investigadoras receberam com surpresa o prémio de 10 mil euros. Não supunham que o estudo que desenvolveram, um pouco fora dos cânones dos trabalhos académicos, pudesse ser galardoado com a distinção que tem o nome do primeiro reitor da Universidade do Algarve, Gomes Guerreiro. Mas o "Red book, a lista vermelha das atividades artesanais do Algarve" tornou-se um grito de alerta para o que está a acontecer a 26 saberes tradicionais da região.

"Quinze estão identificados nesta parte vermelha, 14 a necessitar de salvaguarda urgente e uma já desaparecida, a atividade de albardeiro", explica uma das coordenadoras. Graça Palma adianta que, mesmo as atividades que foram consideradas viáveis, vivem "uma realidade muito frágil" e não estão isentas de desaparecer.

O estudo, promovido pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, tentou assim "identificar, catalogar e registar as artes e ofícios", dando ainda a conhecer um conjunto de recomendações gerais para a sua salvaguarda.

As duas coordenadoras, Graça Palma e Susana Martins, andaram no terreno a contactar 174 artesãos, 4 associações de artesanato e todos os municípios do Algarve. Algumas das atividades e artes identificadas como a necessitar de "salvaguarda urgente" são a de abegão (carpinteiro de carros e arados), cadeiras de tesoura (típicas de Monchique), a cestaria, a latoaria, cestaria de palma, os entrelaçados em esparto, etc. As coordenadoras do estudo consideram que o facto de serem artes mal remuneradas tem afastado delas as gerações mais novas. Além disso, embora alguns destes saberes ancestrais tenham ainda poucos praticantes, eles são cada vez mais idosos. Outras atividades identificadas só persistem nas memórias de quem já exerceu a atividade.

As investigadoras defendem a necessidade de apoiar os artesãos e a transmissão de saberes, apostar na inovação dos produtos e integrar estas atividades no inventário nacional do Património Cultural Imaterial.

As investigadoras, que irão receber o prémio na sessão solene do Dia da Universidade do Algarve, mostram-se satisfeitas por serem distinguidas numa "temática tão cara ao Professor Manuel Gomes Guerreiro, como o ambiente, os territórios de interior e a sustentabilidade". Além de reitor, Gomes Guerreiro foi o primeiro secretário de estado do ambiente após o 25 de Abril.

Presidido pelo vice-reitor para a investigação e cultura da UAlg, Nuno Bicho, o júri da edição de 2022 do Prémio Manuel Gomes Guerreiro foi composto por Francisco Louçã, professor catedrático de Economia no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) da Universidade de Lisboa; Helena Pereira, presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT); Luís Raposo, arqueólogo e presidente do ICOM Europa; Maria do Carmo Fonseca, professora catedrática na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa; Maria Eduarda Gonçalves, professora catedrática no ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa; e Zita Vale, professora coordenadora principal do Instituto Superior de Engenharia do Politécnico do Porto.

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