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O parecer entregue pelo Tribunal Constitucional (TC) aos deputados sobre a proposta do PSD para mudar a sede deste tribunal para Coimbra arrasa a ideia que vai quinta-feira a debate na Assembleia da República.
A maioria dos juízes concluiu que a transferência teria uma "carga simbólica negativa", "degradando a perceção pública da autoridade, autonomia e relevância do órgão".
A confirmar-se, a medida, segundo o parecer, significaria uma "transferência seletiva da sede de um órgão de soberania, baseada em qualquer critério que não seja o da natureza e dignidade constitucional das funções que desempenha, não poderia deixar de constituir um grave desprestigio".
O documento tem data de janeiro e foi consultado pela TSF, depois de ter sido noticiado, inicialmente, pelo Observador.
Os juízes sublinham que o TC não é um órgão jurisdicional qualquer e a sua ida para Coimbra não é uma "medida de descentralização".
O parecer diz que "num país com uma tradição antiga de centralismo, em que os órgãos de soberania sempre tiveram a sede em Lisboa, a transferência da sede do TC contribuirá certamente mais para desprestigiar o órgão do que para criar uma nova centralidade fora da capital".
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Ir para Coimbra "seria tratar um órgão de soberania com lugar cimeiro na constituição como mero instrumento de prossecução de políticas públicas de deslocalização, sacrificando-se irremediavelmente o valor simbólico inerente à presença dos poderes do Estado, na sua esfera e especificidades próprias, na capital do país - sendo o TC, aliás, aquele que mais direta direta relação tem com os órgãos de soberania que exercem as funções política e legislativa", refere o parecer.
Os juízes recordam os argumentos do PSD, mas defendem que não faz sentido argumentar que Coimbra é uma cidade universitária e com forte tradição no ensino de Direito.
Com dez votos a favor e três votos contra, o parecer do TC enviado aos deputados não reuniu a aprovação unânime de todos os juízes deste órgão.
Um dos juízes que votou contra foi o antigo presidente do Tribunal Constitucional, Costa Andrade, reputado constitucionalista da Faculdade de Direito de Coimbra.
O ex-juiz do TC sublinha que 90% dos processos aí julgados não chegam das sedes do poder político central, "mas de qualquer lugar do território nacional": "processos onde ecoam os trabalhos e os dias de dez milhões de cidadãos", pouco havendo "a perder - porventura alguma coisa a ganhar - se tiver lugar num horizonte onde se mostre esbatido o rosto da capital".