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O portal do Serviço Nacional de Saúde contabiliza uma recuperação de 75%, quando comparados os números das primeiras consultas realizadas em abril e as de junho. O quarto mês do ano tinha assinalado menos de 133 mil primeiros atendimentos, e, em junho, os hospitais conseguiram cumprir 233 mil consultas desse tipo. No entanto, este número está ainda distante do atingido em janeiro, quando o SNS realizou mais de 329 mil primeiras consultas.
Abril, altura em que toda a atividade não urgente ficou suspensa, foi mesmo o mês com menos consultas hospitalares desde que há registo, analisa esta manhã o jornal Público. No quarto mês do ano, a queda rondou os 60% face aos números de janeiro. Entre março e maio, houve, de acordo com a Ordem dos Médicos, menos três milhões de consultas, em comparação com o período homólogo de 2019. Já das contas da ministra da Saúde, apresentadas em sede parlamentar, consta uma descida de 902 mil consultas, 371 mil das quais primeiras consultas, entre o início do ano e o fim de maio, quando comparado com as estatísticas de 2019.
Ao Público, Alexandre Lourenço, presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares explica que as primeiras consultas, o primeiro atendimento na especialidade médica adequada, depende das "referenciações" feitas pelos cuidados primários, pelo que a retoma deste tipo de cuidados compromete o encaminhamento dos pacientes para as diferentes especialidades. Alexandre Lourenço acredita que ainda se mantêm as limitações dos serviços e a desconfiança dos utentes
Ainda sem o efeito do Programa de Estabilização Económica e Social, que destina 7,7 milhões de euros para a recuperação das primeiras consultas, foi registada uma subida em junho para 805 mil consultas, mais um terço das conseguidas em abril. Em janeiro houve mais de um milhão de consultas em Portugal.
O jornal Público aponta que a retoma não tem sido homogénea, e destaca o exemplo do Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Central, que se dedica ao atendimento de adultos com Covid-19 e conseguiu apenas realizar 17 mil primeiras consultas em junho. A Unidade Local de Saúde de Matosinhos também só efetuou 3018 primeiras consultas no sexto mês do ano, em contraposição às 7150 de janeiro.
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Alexandre Lourenço considera particularmente "preocupante" que os hospitais que lidaram com poucos casos do novo coronavírus "ainda não tenham conseguido recuperar os seus níveis de atividade", já que o novo fluxo de infeções respiratórias pode assoberbar as unidades de saúde.
Em declarações à TSF, o representante dos administradores hospitalares lembra que existiu, "quase desde o início do mês de abril, a necessidade da definição de um sistema dual, em que há uma resposta à Covid-19 e uma resposta não-Covid para todos os outros doentes".
Ouça a explicação de Alexandre Lourenço
"Apesar de, a partir do mês de julho, ter sido possível aplicar incentivos às equipas para terem um aumento de atividade, continuamos a acreditar que há uma necessidade de definição de programas de acesso a cuidados de saúde, com incentivos, mediante a avaliação clara da mortalidade e da morbilidade causada pela suspensão da atividade dos hospitais e dos centros de saúde", comenta Alexandre Lourenço, que defende a criação de um "plano integrado" em que participem hospitais, centros de saúde, o setor social, as de forças de segurança e as autarquias.
"Teremos de apresentar este plano com urgência, pelo que é necessário que o Ministério da Saúde o venha a liderar. Os hospitais já têm a sua resposta individual planeada, mas tudo vai depender da atuação dos seus parceiros", sublinha.
Rui Nogueira, da Associação de Medicina Geral e Familiar, aponta atrasos que podem chegar aos cinco meses. "O reinício das consultas nos hospitais tem que ver com a recuperação de consultas que estavam pendentes, porque as restantes estão atrasadas três, quatro, cinco meses. As consultas que estão a ser feitas foram pedidas no início do ano."
Ouça a análise de Rui Nogueira sobre a retoma das primeiras consultas.
Também o representante da associação de medicina geral considera que tem de haver um plano estruturado para os próximos meses. "Nós já temos recursos escassos, é necessário investir e repor alguns recursos que já existiram e deixaram de existir. Temos de ter uma organização muito certinha. Nós aprendemos com a primeira onda, sobre como a doença se transmite e o seu fluxo na comunidade. Temos de organizar os nossos serviços em rede, de maneira que sejamos criteriosos na utilização de recursos."
Rui Nogueira defende a necessidade de um plano integrado.
Alexandre Lourenço defende a urgência de um plano integrado
* Notícia atualizada às 11h02
