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Centenas de médicos concentraram-se esta quarta-feira diante do Ministério da Saúde para protestar contra a falta de compromisso do Governo em negociar grelhas salariais e a falta de medidas para salvar o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
"Não à destruição do SNS", "É preciso salvar o SNS", "O povo merece o SNS", "1,5 milhões de pessoas sem médicos de família", "Viva o SNS, Juntos na defesa do SNS", "Manuel Pizarro (ministro) vem à janela, os teus colegas estão em guerra" e "Costa escuta, os médicos estão em luta" foram alguns dos cartazes e palavras de ordem da manifestação, realizada no primeiro de dois dias de grave nacional convocada pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM).
Ouça a reportagem no local de Rúben de Matos.
A greve começou às 00h00 de hoje e prolonga-se até às 24h00 de quinta-feira, para exigir a renegociação da carreira médica e respetiva grelha salarial, que inclua um horário base de 35 horas, com atualização remuneratória, a dedicação exclusiva opcional e majorada e a consideração do internato médico como primeiro grau da carreira.
Horas não pagas e macas nos corredores
Raquel e João são médicos há menos de três meses, entraram neste ano no SNS e trabalham no Centro Hospitalar do Oeste. Num dos cartazes que seguram, lê-se "Vou ser obrigado a emigrar?"
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A "hipótese" faz parte das preocupações de Raquel desde que começou a formar-se na área e o trabalho diário no SNS não parece aliviar a dúvida: "A esperança é a última a morrer, mas a hipótese continua a ser uma grande realidade na minha vida. Se nada mudar, possivelmente irá acontecer."
Não foi ao engano para o SNS. Conta que, enquanto ainda estudava, conheceu enquanto estagiária "hospitais com condições igualmente precárias". Agora, é a "falta de médicos dentro do SNS" que mais a preocupa, vendo-se obrigada a fazer horas extra "não pagas".
João, colega de centro hospitalar, identifica além da falta de médicos, também a "falta de material e de condições". Por vezes, depois das 15h00, "não há um técnico para fazer um eletrocardiograma, são os médicos que no meio do caos têm de os fazer". Muitas vezes, descreve também, os clínicos veem-se obrigados a "empurrar mapas para passar num corredor".
Ouça os testemunhos de Raquel e João.
"Acabamos de começar há dois meses e meio e podemos ver o caos que está instalado, às vezes até é desumano para os doentes", confessa.
Este médico recém-formado identifica também "um grave problema de gestão", porque apesar da injeção de dinheiro no SNS, "os problemas estão a acumular-se".
Nesta manifestação estiveram presentes dirigentes políticos como o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, e Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda.
No local compareceu também a secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha, que apelou para o "reforço do SNS" e criticou a "degradação das condições de trabalho" dos profissionais da saúde, dizendo ser preciso uma "mudança de rumo no país".
Também Dina Carvalho, da UGT, lembrou o "descontentamento geral" destes profissionais e lembrou que os médicos não querem apenas "palmas" do governo pelo seu empenho e profissionalismo durante a pandemia por Covid-19, mas "reconhecimento" e valorização das carreiras.