Imigrantes no Alentejo: equipas sociais no "momento zero" da identificação de necessidades

Relator Nacional para o Tráfico de Seres Humanos adianta que há alojamentos garantidos para quem tenha sido encontrado em situações "perfeitamente indignas" e realça a importância de "garantir que as pessoas que estão ali percebem que têm direitos".

As equipas de apoio social chamadas ao Alentejo depois da operação contra a exploração laboral e tráfico de seres humanos em explorações agrícolas estão a tentar encontrar soluções de alojamento, mas também de comunicação para os imigrantes resgatados.

Em direto na TSF, o Relator Nacional para o Tráfico de Seres Humanos, Manuel Albano, explicou que o que se passa em Beja depois desta operação é ainda o "momento zero" da avaliação das necessidades dos imigrantes.

A prioridade das equipas sociais passa agora por "estabilizar emocionalmente e garantir que as pessoas que estão ali percebem que têm direitos", assegurando também uma solução "no imediato" para as suas necessidades básicas.

O trabalho emocional inclui "a capacitação para conversar e prestar o seu depoimento, visando e visualizando a situação não como seres arguidos, mas como seres com direitos".

"Além da fragilidade humana em que possam estar", estas pessoas "têm outro tipo de fragilidades emocionais e psicológicas que é necessário trabalhar para que muitas voltem a sentir-se com direitos".

A outra grande dimensão relaciona-se com as condições de habitabilidade dos locais em que muitos dos imigrantes foram encontrados. O alojamento, para quem necessite dele, já estava garantido devido a "um trabalho prévio", explica Manuel Albano, mas cada situação terá um tratamento diferenciado.

Os trabalhadores identificados "não vão todos para o mesmo local, depende da situação específica em que se encontram", mas quem foi encontrado em situações "perfeitamente indignas do ponto de vista de condições de habitabilidade e de exploração" é encaminhado para um alojamento "diferenciado". Ainda assim, quem fique nas instalações em que já se encontrava terá também um "acompanhamento de proximidade", na tentativa de "identificar cada um dos problemas existentes e cada uma das soluções em que se possa trabalhar".

Sem referir situações concretas, Manuel Albano relata que "uma sobrelotação que torna indigno o alojamento" é, por exemplo, ter "50 pessoas num T2", algo que, além de "altamente indigno, não é capacitante". E por todos estes aspetos, esta não é "apenas uma intervenção policial ou judicial".

Segue-se a definição do futuro destes trabalhadores: "Há pessoas que poderão querer ficar no nosso país e teremos de trabalhar com elas nesse sentido. Há pessoas que poderão querer, o que não é anormal, retornar ao seu país de origem. Também se trabalhará no sentido do retorno voluntário."

Neste segundo caso, o trabalho é feito em conjunto com a Organização Internacional para as Migrações (OIM) "para que possa acontecer de forma securitária, evitando eventuais processos de revitimização ou de retráfico". O contacto com as embaixadas do país de origem dos trabalhadores identificados também pode fazer parte do processo.

O processo "pode demorar algum tempo", assinala Manuel Albano, mas "é para isso que existem as equipas, para prestar este apoio no território às pessoas e para que possam encontrar um espaço de liberdade".

Operação levou a 35 detenções

A Polícia Judiciária deteve esta quarta-feira 35 suspeitos no distrito de Beja, "fortemente indiciados" pela prática de crimes de associação criminosa, tráfico de pessoas, branqueamento de capitais e falsificação de documentos, entre outros crimes.

"Os suspeitos, com idades compreendidas entre os 22 e os 58 anos de idade, de nacionalidade estrangeira e portuguesa, encontram-se fortemente indiciados pela prática de crimes de associação criminosa, de tráfico de pessoas, de branqueamento de capitais, de falsificação de documentos, entre outros", pode ler-se em comunicado divulgado pela PJ.

Os detidos, numa operação no distrito de Beja realizada hoje, "integram uma estrutura criminosa dedicada à exploração do trabalho de cidadãos imigrantes", adianta o comunicado.

Os imigrantes eram, "na sua maioria, aliciados nos seus países de origem, tais como, Roménia, Moldávia, Índia, Senegal, Paquistão, Marrocos, Argélia, entre outros, para virem trabalhar em explorações agrícolas naquela região do nosso país", acrescentou a PJ. A "vasta operação policial" foi desenvolvida no âmbito de um inquérito titulado pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, através da Unidade Nacional Contra Terrorismo.

Envolveu "cerca de 400 operacionais [da PJ], em várias cidades e freguesias da região do Baixo Alentejo", que procederam "ao cumprimento de 65 mandados de busca domiciliária e não domiciliária e à detenção, fora de flagrante delito, de 35 homens e mulheres".

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG

Patrocinado

Apoio de