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Para que não fique uma sombra de suspeita sobre as Forças Armadas, António Lima Coelho, da Associação de Sargentos Portugueses, quer que o caso dos militares portugueses suspeitos de estarem envolvidos em crimes de contrabando de droga, ouro e diamantes seja totalmente esclarecido e que os responsáveis sejam punidos.
Em declarações à TSF, António Lima Coelho admite estar preocupado, mas refere ter a "perspetiva de que os serviços competentes estão a agir em conformidade".
"Espero que todos os responsáveis por esta situação sejam devidamente identificados e penalizados, porque os militares em geral não podem ficar ligados às más práticas de um grupo de energúmenos que nunca deveria ter envergado o uniforme das Forças Armadas", afirma.
Ouça as declarações de António Lima Coelho à TSF
O Presidente da Associação de Sargentos admite que a instituição militar não está livre de que casos como estes aconteçam, mas acredita que eles serão menos se na altura do recrutamento a malha for apertada.
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"Infelizmente, maus profissionais existem em todos os setores. O que importa aqui é expurgar as Forças Armadas destes maus elementos. Isto também nos deve fazer refletir sobre aquilo que são os processos de seleção para as Forças Armadas. As dificuldades de recrutamento e de retenção não podem permitir o alargar da malha nos critérios de qualidade e de exigência para aqueles que um dia venham a envergar o uniforme das Forças Armadas", acrescenta.
António Lima Coelho reflete sobre os processos de seleção para as Forças Armadas

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A Polícia Judiciária (PJ) confirmou esta segunda-feira a execução de 100 mandados de busca e 10 detenções no âmbito da Operação Miríade, na sequência de um inquérito dirigido pelo Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa.
Em causa está a investigação a uma rede criminosa com ligações internacionais e que "se dedica a obter proveitos ilícitos através de contrabando de diamantes e ouro, tráfico de estupefacientes, contrafação e passagem de moeda falsa, acessos ilegítimos e burlas informáticas", com vista ao branqueamento de capitais.
Em comunicado, o Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) revelou que alguns militares portugueses em missões na República Centro-Africana podem ter sido utilizados como "correios no tráfego de diamantes, adiantando que o caso foi reportado em 2019.

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Para o EMGFA, "o que está em causa de momento é a possibilidade de alguns militares que participaram nas FND [Força Nacional Destacada], na RCA, terem sido utilizados como correios no tráfego de diamantes, ouro e estupefacientes" e que "estes produtos foram alegadamente transportados nas aeronaves de regresso das FND a território nacional".
A Organização das Nações Unidas (ONU) já mostrou disponibilidade para cooperar com as autoridades portuguesas na investigação a suspeitas de tráfico por militares nacionais. Num comentário sobre a operação Miríade em Portugal, Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, afirmou que a organização está a acompanhar as notícias e manifestou disponibilidade para cooperar na investigação sobre suspeitas de tráfico de ouro e diamantes por militares portugueses na missão de paz na República Centro-Africana.

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O ministro da Defesa revelou esta segunda-feira ter informado a ONU em 2020 das suspeitas de tráfico que recaíam sobre alguns militares portugueses em missão na República Centro-Africana, garantindo que estes já não se encontravam naquele território.
"Informei [a ONU] de que a denúncia tinha ocorrido, que o assunto tinha sido encaminhado para as nossas autoridades judiciais e que todos os elementos pertinentes tinham sido entregues para investigação judiciária. E também, naturalmente, que os militares sob suspeita já não estavam na RCA e que portanto podiam ter toda a confiança em relação às nossas Forças Armadas como sempre tiveram", adiantou João Gomes Cravinho, em declarações à agência Lusa.

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Já o Presidente da República assinalou que tudo foi e está a ser feito para apurar se têm razão de ser as suspeitas que recaem sobre militares portugueses que estiveram em missões internacionais, em concreto na República Centro Africana. O chefe de Estado, que é também chefe supremo das Forças Armadas, informou que não estava a par do processo, e que era suposto que assim fosse.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, "a ideia é levar as investigações o mais longe possível, para apurar o que se passa, confirmar se sim ou não são casos isolados - como à primeira vista há quem entenda que seja -, e portanto não afetam, em termos de generalização, em termos de prestígio das nossas Forças Armadas, que está incólume". O Presidente da República disse ainda que importa tirar a limpo se, como tudo indica, este é um caso isolado, estimando que, se assim for, a imagem do país e das Forças Armadas não afetará em termos de generalização a imagem das Forças Armadas portuguesas.

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