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Várias associações ambientalistas acusam o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) de pouco ou nada fazer para acabar com a morte lenta de aves em redes de proteção das aquaculturas.
O alerta é feito pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), Associação Milvoz, Associação Natureza Portugal, Sciaena, GEOTA e pelo Observatório do Mar dos Açores.
As primeiras denúncias foram feitas há um ano e a SPEA diz que a Associação Portuguesa de Aquacultores tem-se mostrado empenhada em encontrar soluções. Contudo, o "entrave tem vindo sempre das autoridades que deveriam proteger a Natureza".
As associações chegaram a delinear numa reunião com as autoridades ambientes um conjunto de procedimentos que os aquacultores deveriam seguir sempre que encontrassem aves nas suas redes e meses depois dizem que nada foi divulgado pelo ICNF nem pela Direcção Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos.
A SPEA exige ação ao Ministério do Ambiente e diz que "corvos-marinhos, águias, garças e outras aves, incluindo espécies ameaçadas como a águia-sapeira e o pernilongo, passam horas em sofrimento e acabam por morrer, presas em redes autorizadas pelo ICNF".
Um ano depois, o problema "mantém-se um pouco por todo o país, com episódios recentes registados na zona da ria de Aveiro pelo núcleo local da Quercus".
Segundo Rui Machado, da SPEA, "há algum tempo que temos sido contactados para várias situações de aves mortas ou presas em redes, mas também por observações que fazemos quando nos deslocamos ao terreno, um pouco por todo o país".
As redes são colocadas sobre a superfície da água para impedir que as aves cheguem ao peixe, mediante uma licença do ICNF, que deverá garantir que não sejam afetadas espécies protegidas.
Os casos mais problemáticos são de redes feitas de fio de nylon fino e transparente, praticamente invisível para as aves: "Ao voarem em direção à água, as aves embatem no fio e ficam com cortes profundos no corpo e nas asas", diz a SPEA, que descreve que os animais podem passar horas a tentar soltar-se, "acabando por sucumbir à exaustão, fome e desidratação".
"A intervenção rápida e adequada dos aquacultores pode fazer a diferença", diz Rui Machado à TSF, com a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves a argumentar que existe falta de regulamentação sobre o tipo de redes que podem ser usadas, bem como uma maior fiscalização e controlo.
Segundo a SPEA, "a falha das autoridades é ainda mais incompreensível dado que existem soluções alternativas que podem reduzir esta mortalidade" como "redes pretas que mais facilmente se veem" ou "malhas mais apertadas que evitariam que as aves fiquem presas", além de fitas coloridas ou réplicas de predadores para afugentar os animais.
A TSF contactou o ICNF há dois dias para obter uma resposta a estas críticas, mas até ao momento não obteve resposta.
Do lado da Associação Portuguesa de Aquacultores, Fernando Gonçalves explica que as redes são obrigatórias para que as aves não transmitam doenças aos peixes que tentam caçar.
O representante do setor fala em regras de higiene e segurança para evitar a "interação" entre aves e peixes, mas é preciso fazer estudos para saber se a mortalidade de aves nestas redes é assim tão grande como denunciam as associações ambientalistas.
"Algumas espécies de aves são predadores dos peixes e, por exemplo, os corvos marinho, sem uma rede, no inverno, entram nos meus tanques e comem os 50 mil peixes que lá podem estão dentro", refere Fernando Gonçalves que também defende que o ICNF e a DGRM divulguem os procedimentos que os produtores devem seguir quando encontram uma ave presa numa rede.