"Não há lugar para abusadores." Bispo de Beja reconhece ter provocado "deceção" em entrevista

João Marcos garante não subestimar a "enorme gravidade dos abusos sexuais de menores", um crime que diz ser agravado quando praticado "por homens dedicados a Deus".

O bispo de Beja, João Marcos, garante defender que "não há lugar para os abusadores no sacerdócio" e lamenta o que reconhece ter sido a "deceção" que provocou ao referir, numa entrevista à SIC sobre os abusos sexuais na Igreja Católica, que "Deus perdoa a todo aquele que se arrepende" e repara os danos do que praticou.

Num comunicado enviado à agência Ecclesia, é também o próprio bispo quem reconhece ter dado a entender que subestima "a enorme gravidade dos abusos sexuais de menores e que o perdão de Deus permite ao abusador retomar a sua vida normal".

"De nenhum modo é esse o meu pensamento. Compreendo a deceção que provoquei dentro e fora da Igreja e a todos peço perdão", assume.

Numa clarificação da posição que demonstrou a 7 de março, João Marcos garante agora que todas as "suspeitas verosímeis" obrigam à adoção de medidas e que nestas se incluem "o afastamento das tarefas pastorais" de padres suspeitos de terem cometido abusos de menores, um crime que sublinha ser "da máxima gravidade".

"Os seus efeitos são devastadores", assinala, sendo estes agravados "se praticados por homens dedicados a Deus".

Sobre as vítimas, o líder religioso de Beja refere que "têm de ser uma prioridade" e que as "necessidades de apoio e reparação devem nortear o acompanhamento" das mesmas.

"A investigação deve ser rápida e seguir as regras claras definidas pelo Papa Francisco. A colaboração com as autoridades deve ser plena e deve ser cumprida plenamente a lei civil e penal", assinalou.

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica validou 512 testemunhos, apontando, por extrapolação, para pelo menos 4.815 vítimas. Vinte e cinco casos foram enviados ao Ministério Público, que abriu 15 inquéritos, dos quais nove foram arquivados.

Os testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão.

No relatório, divulgado em fevereiro, a comissão alertou que os dados recolhidos nos arquivos eclesiásticos sobre a incidência dos abusos sexuais "devem ser entendidos como a 'ponta do iceberg'" deste fenómeno.

A comissão entregou aos bispos diocesanos listas de alegados abusadores, alguns ainda no ativo.

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