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As três horas que os passageiros aguardaram na fila, no aeroporto de Lisboa, no último domingo, já se tinham verificado na passada quinta-feira, 9 de Junho. "A espera foi muito semelhante" à que se tinha registado no fim-de-semana crítico, garante Patrícia (nome fictício), inspectora do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) no aeroporto Humberto Delgado.
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Nesse fim-de-semana, o último de Maio, um plenário de trabalhadores do SEF originou filas que chegaram às cinco horas, levando o governo a anunciar um plano de contingência que entrou em vigor no início de Junho. O ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, fez um balanço positivo, assegurando que as filas tiveram uma "redução muito significativa", mas Patrícia não regista grandes alterações e o pior é que "não há volta a dar", afirma. "É um volume muito elevado de passageiros", sobretudo no período da manhã. "Ainda não começámos o Verão oficialmente e já estamos neste nível", sublinha a inspectora, que espera "muito mais" nos meses que se avizinham.
Ouça aqui a reportagem da TSF
Pelos cálculos de Patrícia, no primeiro sábado de Junho, dia 4, foram processados, no total, mais de 36 mil passageiros, por um efectivo de 63 inspectores do SEF, divididos pelas zonas de chegadas, partidas, a designada área T (para os voos menos problemáticos) e o terminal 2, destinado aos voos de baixo custo. No período da manhã, o mais movimentado, cada inspector terá controlado em média, e sem interrupções, 1,6 passageiros por minuto.
No passado domingo, dia 12, o cenário agravou-se, com a ANA Aeroportos a assinalar tempos de espera acima das três horas, pedindo "um reforço contínuo com a maior brevidade".
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O SEF reagiu, lembrando que o plano de contingência só estará a funcionar em pleno, a 4 de Julho.
No entanto, Patrícia não acredita que o reforço com agentes da PSP possa resolver o problema. "Eles próprios (polícias) não se sentem preparados para ficar numa box (posto de atendimento) sozinhos", afirma a inspectora, explicando que "no melhor dos cenários, tiveram um mês e meio" de formação, enquanto os inspectores do SEF receberam formação durante cerca de um ano. "Sentimos necessidade de dar apoio" aos agentes da PSP, mas nesse caso, "o nosso rendimento também pode diminuir", realça Patrícia.
A trabalhar há vários anos no aeroporto de Lisboa, a inspectora está no limite. Como muitos colegas, confessa que se sente muito "cansada" e sob constante stress, sendo o desgaste maior provocado pela incerteza quanto ao futuro do SEF. "A pressão é muita, de todo o lado. É uma bola de neve", a tal ponto que, recentemente, Patrícia esteve "quase a desmaiar" ao ver tanta gente nas filas sem fim à vista.
No dia em que falou à TSF, Patrícia tinha terminado o turno de oito horas sem ter ido à casa-de-banho. "Vamos adiando, vamos só fazer mais estes passageiros para ver se os conseguimos despachar e acontece. Quando damos por nós, estamos no fim do turno", lamenta a inspectora, com um sublinhado: "Não é para os passageiros, não é para nós, não é para ninguém."
E o Verão ainda nem começou...
* A autora não escreve segundo as normas do novo acordo ortográfico