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As palavras carregadas de uma revolta audível são da presidente, agora demissionária, do conselho de administração da Transtejo/Soflusa, Marina Ferreira: "Não somos maluquinhos, sabemos perfeitamente que não há navios sem baterias."
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Para as entender é preciso puxar a fita do tempo atrás, até ao início da tarde desta quinta-feira, com o anúncio do pedido de exoneração da administração da Transtejo/Soflusa após a divulgação de um relatório do Tribunal de Contas (TdC) esta manhã.
No documento, o tribunal acusa a empresa de "faltar à verdade" e de práticas ilegais e irracionais. Em causa, a compra de nove baterias, por 15,5 milhões de euros, num contrato adicional a um outro, já fiscalizado previamente pelo TdC, para aquisição, por 52,4 milhões de euros, de dez novos navios com propulsão elétrica para assegurar o serviço público de transporte de passageiros entre as duas margens do Tejo.
Ouça a reportagem de Rúben de Matos.
Dos dez navios comprados, apenas um deles trazia bateria, para testes. Ou seja, faltavam outras nove baterias, as tais que a empresa queria agora adquirir. Para o TdC, esta forma de fazer o negócio significa que a foram comprados "um navio completo e nove navios incompletos, sem poderem funcionar, porque não estavam dotados de baterias necessárias para o efeito".
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O tribunal alega que, "com as devidas adaptações", é o mesmo que "comprar um automóvel sem motor, uma moto sem rodas ou uma bicicleta sem pedais, reservando-se para um procedimento posterior a sua aquisição". Marina Ferreira discorda, diz a própria, "como é evidente".
Na visão da gestora, a comparação com automóveis ou bicicletas não é válida. Em conferência de imprensa, esta tarde, a própria avançou com outras que considerou mais ajustadas, como "comprar impressoras sem toners ou casas sem eletrodomésticos e sem a luz ligada".
"Não é nada do outro mundo do ponto de vista da gestão", defendeu Marina Ferreira. Para a gestora, as considerações do tribunal são "muito ofensivas e ultrajantes".
A gestora defendeu também que as decisões que levaram à compra destes navios são "absolutamente legais", numa solução "pensada, fundamentada e decidida sempre em nome do interesse público".
Confessando-se "triste" - mas sem deixar de assinalar que "não é a primeira vez" que deixa um cargo público - Marina Ferreira lamentou a "falta de respeito" pela administração demissionária da empresa: "Nós somos pessoas sensatas, razoáveis, informadas e que tentam tomar decisões acertadas."
Sobre o futuro, considerou que, apesar deste chumbo do TdC, "ainda se vai a tempo de abrir um novo procedimento e ter as embarcações disponíveis no final do ano.
"Terá que haver um concurso público internacional. É o caminho que o TdC aponta e eu, pelo menos, sempre respeitei as decisões do Tribunal de Contas. Depois haverá prazos de entrega, contestação. Eu gostaria que fosse possível ter os barcos até ao final do ano", afirmou.
A Transtejo é responsável pela ligação do Seixal, Montijo, Cacilhas e Trafaria/Porto Brandão, no distrito de Setúbal, a Lisboa, enquanto a Soflusa faz a travessia entre o Barreiro, também no distrito de Setúbal, e o Terreiro do Paço, em Lisboa.
As empresas têm uma administração comum.