Navio-escola Sagres. A relíquia da Alemanha nazi que está há 60 anos ao serviço de Portugal

Foi há 60 anos que o Navio-escola Sagres içou, pela primeira vez, a bandeira de Portugal. Durante estas seis décadas a formar navegadores, a Sagres já fez o equivalente a mais de 25 voltas ao mundo.

"Bem-vindos a bordo ao NRP Sagres, o navio mais antigo ao serviço da Marinha Portuguesa. Faz hoje 60 anos que aqui foi içada, pela primeira vez, a bandeira nacional." É o primeiro-tenente Martins Morgado quem recebe os visitantes que, esta terça-feira, chegam no navio, para o Dia da Defesa Nacional. Muitos não saberão que estão perante uma relíquia histórica, um tesouro da Alemanha nazi de Hitler, que acabou nas mãos de Portugal.

Construído em 1937, em estaleiros de Hamburgo, o navio era uma de quatro embarcações encomendadas pela Marinha Alemã. Com a derrota de Hitler na Segunda Guerra Mundial, as posses da Alemanha foram distribuídas pelos vencedores. Inicialmente, foram os Estados Unidos a ficar com o navio, mas, não encontrando uma instituição que pudesse abarcá-lo, acabou por ser cedido ao Brasil, como forma de reparação pelos danos causados pelos submarinos alemães aos navios brasileiros durante a guerra. Só depois foi comprado por Portugal, para substituir o anterior navio Sagres - que, curiosamente, também tinha sido uma "herança" da derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial.

"Nós conseguimos comprar esta beleza por cerca de cem mil dólares", nota o primeiro-tenente Martins Morgado. "Os brasileiros agora estão um bocadinho tristes, mas, enfim, negócio é negócio."

Desde então, a Sagres tem cumprido a tarefa de formar os futuros navegadores portugueses. O comandante Mário Fonte Domingues, capitão do navio-escola, sublinha que "para se fazer um bom marinheiro é preciso muito tempo no mar", uma "tarimba" que tem de ser dada "nos primeiros anos da Escola Naval, onde se potencia a prática da navegação astronómica". Para isso, sublinha o capitão, a Sagres é, o navio-escola ideal, "uma vez que faz travessias oceânicas, a uma baixa velocidade, e essa permanência prolongada no mar ajuda à formação do espírito do marinheiro".

O primeiro-tenente Martins Morgado refere que o navio é capaz de embarcar "todo o curso de cadetes, à volta de 60 pessoas, incluindo cadetes femininos, com as suas próprias instalações". "Conseguimos pô-los todos juntos, num espaço confinado, com algumas exigências operacionais, mas também longe da família, no mar, focados", indica.

Em tempos, um desses jovens cadetes foi o atual capitão do navio. Mário Fonte Domingues recorda o período de aprendiz no navio-escola como uma experiência "fantástica".

"O navio fez uma ida ao Japão, uma viagem de nove meses. Os cadetes tiveram a felicidade de fazer um troço icónico da nossa expansão marítima. É um deslumbramento absoluto. Foi uma viagem que me marcou e, a partir daí, fiquei apaixonado pela Sagres", confessa o comandante.

Nestes 85 anos de existência, o navio já leva um tempo total de 7.237 dias de missão, o equivalente a quase 20 anos consecutivos. Só nas 60 décadas de bandeira portuguesa, navegou 664.722 milhas, o mesmo que mais de 25 voltas ao mundo, tendo visitado 564 portos e fundeadouros estrangeiros, contando atualmente com uma guarnição de 103 militares.

Por agora, a Sagres está na Base Naval de Lisboa, a fazer manutenção. Se tudo correr bem, volta a alto-mar dentro de alguns meses, numa viagem até ao Brasil, para assinalar o bicentenário da independência do país.

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