"O mundo mudou, mas a escola continua igual." E se houvesse uma revolução no ensino?

"Uma nova escola para Portugal", de Jorge Rio Cardoso, propõe uma revolução no ensino português, com novos métodos de aprendizagem que vão para além das matérias de cada disciplina.

Já está nas livrarias "Uma nova escola para Portugal", o livro que teoriza um ensino mais prático, em que cada aluno tem oportunidade de pôr as mãos na massa, adquirir competências, mas também valores. O autor, Jorge Rio Cardoso, é também investigador do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa e técnico superior do Banco de Portugal.

O que a obra defende é "uma educação para a cidadania". O criador do método de estudo "Ser bom aluno, 'bora lá?", acredita que o modelo atual de ensino está obsoleto porque o "aluno não é parte ativa".

" [O aluno] sente-se desmotivado", frisa o professor que tem percorrido centenas de escolas, de norte a sul do país, para recolher testemunhos junto da comunidade escolar e dos pais. "Nota-se isso [a desmotivação], não só nos alunos que têm mais notas, mas mesmo nos outros", sublinha.

A escola que, segundo o Presidente da República - que leu e apreciou o livro - deveria ser "um lugar de conhecimento aberto ao mundo" continua a fechar-se à mudança. "O mundo mudou, e a escola continua igual", assevera Jorge Rio Cardoso. No entanto, o investigador diz compreender que os paradigmas não possam ser mudados radicalmente de forma precipitada: "Penso que esta ideia é consensual para a maioria dos professores, e mesmo para o Ministério. Acho que o Ministério tem dado passos seguros, e a educação não pode ser totalmente mudada de um dia para o outro".

As alterações têm, assim, segundo o técnico superior do Banco de Portugal, de ser feitas "gradualmente, para que os professores percebam, para que também os pais se sintam identificados". E que alterações são estas? Em primeiro lugar, Jorge Rio Cardoso acredita que os alunos devem ter mais autonomia nas suas decisões e nos seus processos de aprendizagem.

"O aluno [deve] ter mais liberdade, até de criação, e de se divertir", refere o professor que quer colocar os pupilos no centro da equação. "Só consigo ser exigente quando ponho o aluno no centro", concretiza o professor.

Jorge Rio Cardoso escreveu, por isso, sobre "uma melhor escola que transmita valores", até porque "querermos que o aluno esteja sentadinho, caladinho, e ainda seja premiado por isso" é cada vez mais um objetivo sem utilidade prática. É essencial para o autor "pôr o aluno à procura do conhecimento, com a supervisão do professor que o vai ajudar".

Assim, "à medida que vamos progredindo de ciclo, até chegar ao secundário e à universidade, o aluno vai tendo cada vez mais autonomia, mais responsabilidade, mas sobretudo ele vai criar conhecimento", e "quando assim é, o ensino deixa de ser chato".

" [Aprender] é uma atividade muito exigente. Para sermos mais exigentes, não precisamos de mais exames", fundamenta. Pesar os resultados e avaliá-los passa, sobretudo, por perceber "se os que saem da escola têm respeito uns pelos outros, se um dia hão de ser bons pais, boas mães, se vivem a cidadania".

Atualmente, é "perfeitamente compatível" um aluno ter boas notas e não ter respeito pelos outros, se "tiver tiques de vedeta". Por isso, torna-se premente modificar a forma como se pensam as avaliações. "Temos de fomentar dentro das escolas, não um modelo de competitividade, mas modelos de cooperação", analisa o autor de "Uma nova escola para Portugal".

Os velhos hábitos de professor levam-no a depreender que, "se houver preparação de casa, com valores, torna-se mais fácil na escola ter sucesso, em tudo aquilo que diz respeito aos sucessos".

A escola deve deixar de ser um lugar povoado pelo medo, para passar a deixar-se invadir pela proatividade. "O medo dos exames, o medo de falhar, o medo de errar, às vezes até o medo do ridículo" são os principais alvos de um ensino em que "quem coloca uma questão tem receio de ser gozado".

"Na sala, temos, com certeza, de errar. Ao errar, vamos aprender. Se eu não tiver medo de errar, vou ser mais criativo", diz o autor que traz para cima da mesa "novas pedagogias e percursos alternativos", para "não deixar ninguém para trás".

Os alunos devem ser respeitados, e nunca subvalorizados, neste processo."Pôr a mão na massa é o que lhes trará motivação", esclarece Jorge Rio Cardoso. "O nosso cérebro memoriza mais quando achamos que aquele conhecimento é essencial para a nossa sobrevivência", remata, ao mesmo tempo que lança desafios a quem pensa os programas escolares.

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