O único banco de leite humano do país já alimentou mais de 1700 bebés

Desde que foi criado em novembro de 2009, o Banco de Leite Humano da Maternidade Alfredo da Costa recolheu à volta de 3300 litros de leite de 343 dadoras, o que permitiu alimentar acima de 1700 prematuros em três unidades de saúde da Grande Lisboa.

No dia mundial de doação de leite humano, visitámos o único banco de leite humano do país. Foi criado há quase 12 anos na Maternidade Alfredo da Costa em Lisboa e serve, além desta maternidade, a Maternidade Fernando da Fonseca e o Hospital de Cascais.

É num pequeno laboratório que o leite das doações é controlado e preparado. Quando chegámos, Carla Matos, técnica superior de análises clínicas, estava a descongelar alguns lotes de leite para iniciar a pasteurização, um dos últimos passos de um longo processo. Desde que o leite é doado e chega à maternidade, onde é armazenado em arcas frigoríficas a menos de 25ºc, este leite é sujeito a uma série de análises. "Faço a análise microbiológica, a análise bioquímica, o controlo das serologias das dadoras e, além disso, faço um controlo da parte bacteriológica para ver se crescem bactérias, bichinhos que não são convenientes para os bebés muito prematuros", explica Carla Matos.

Depois de pasteurizado, o leite humano volta a ser congelado e tem uma validade de três meses. Com ele é possível alimentar bebés prematuros ou crianças de termo com algumas patologias.

Israel Macedo, o médico que coordena o banco de leite, explica que este leite materno pasteurizado não é tão bom como o da mãe, mas é melhor do que as fórmulas artificiais. "O leite das mães tem sempre um efeito protetor muito superior a este leite de dadora. O que acontece é que o leite de dadora com a fórmula artificial continua a ter vantagens. Se juntarmos o leite de dadora ao leite da própria mãe, que está a ter um bocadinho de falha (muitas vezes acontece nas unidades de cuidados intensivos ou quando o bebe passa por um mau bocado, as mães com o stress têm uma diminuição da produção de leite) e com o leite de dadora conseguimos como que expandir essa quantidade de leite, mantendo os benefícios do leite materno", revela Israel Macedo, acrescentando que enquanto as fórmulas artificiais agravam o risco de enterocolite (inflamação do trato digestivo), o leite da mãe diminui 20 vezes esse risco e o leite de dadora diminui seis vezes.

Numa sala com um bebé ao colo, Sandra Castro conta-nos o que a levou a doar leite: salvar vidas. "Salvo vidas, faço a diferença na vida dos bebés e também na vida das mães que geralmente estão a passar um momento de angústia muito grande. É uma missão de salvar vidas, mesmo. É muito lindo! E quando vemos as mães a agradecer e as crianças é uma coisa inacreditável, por isso eu digo às mães: doem leite."

Sandra Castro foi mãe pela segunda vez -o primeiro filho tem dois anos - e corresponde ao perfil habitual das dadoras. Israel Macedo conta que normalmente são mães de segunda viagem que tiveram sucesso na primeira amamentação e que lhes sobrava leite. Além disso são pessoas sensíveis ao problema de bebés prematuros, cujas mães não conseguem ter leite.

Desde o início do ano, o Banco de Leite Humano da Maternidade Alfredo da Costa já recebeu leite de 17 dadoras, o que tem permitido suprir as necessidades das três unidades de saúde que serve. Mas nem sempre é assim. O coordenador conta que às vezes há constrangimentos em relação às quantidades de que precisam. "Há determinadas alturas em que temos algumas dificuldades. Às vezes até temos leite, mas as dadoras ainda não vieram. Agora, por causa da Covid-19 foi complicado. Tínhamos o leite, mas as dadoras não tinham ainda vindo fazer as análises e, portanto, não podíamos usar o leite para cumprirmos as nossas normas." O controlo do leite doado implica também a realização de análises pelas dadoras de três em três meses.

Fora da grande Lisboa, os bebés prematuros que precisam são alimentados com fórmulas artificiais, menos benéficas para a saúde, como explicou Israel Macedo, que defende, por isso, a importância de serem criados mais bancos de leite. "Há imensas pessoas do norte que nos telefonam que querem doar leite e nós realmente não conseguimos", conta o médico.

No Porto, já há um grupo de mães que quiseram ser dadoras e não conseguiram, e que contactaram vários hospitais, revela. "O hospital de São João parece que vai avançar finalmente com um banco de leite, as coisas parece que estão a correr bem e acho que até ao final do ano vamos ter um banco de leite no norte, finalmente!"

Questionado sobre o motivo pelo qual, ao fim de quase 12 anos, o banco da Maternidade Alfredo da Costa continua a ser o único, Israel Macedo revela que "tem havido limitações de financiamento quer do sector público, quer de parcerias que falharam e que levaram a que não tivesse sido possível".

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