"Os incêndios passam, matam outras espécies, mas os eucaliptos não morrem"

Numa altura em que um incêndio está a destruir a maior reserva ecológica de Cuba, um estudo da escola agrária de Coimbra vem explicar como ocorre a expansão de eucaliptos em Portugal. Nas últimas décadas, a espécie tem sido apontada como potenciadora das maiores machadadas na floresta portuguesa.

O eucalipto não morre com o fogo. Joaquim Sande Silva, coordenador de um estudo da escola agrária de Coimbra, sobre a proliferação de eucaliptais em Portugal, explica: "A espécie está muito bem adaptada à ocorrência do fogo, resiste bastante bem à passagem do fogo, e são muito poucas as plantas que morrem de facto pela presença do fogo. Os incêndios passam, matam outras espécies, mas os eucaliptos não morrem."

O eucalipto prolifera de forma natural. O pólen e as sementes podem viajar e assentar raízes bastante longe. O investigador do Instituto Politécnico de Coimbra e engenheiro florestal revela à TSF que esta viagem pode ir mesmo até aos 80 e 100 metros, o que coincide com o que a revisão bibliográfica sobre o tema também demonstra.

Após os incêndios de 2017, em Santa Comba Dão, apareceu um eucaliptal com uma vasta quantidade de plantas. "Identificámos a maior densidade de plantas jamais registada na literatura científica. Em média, cerca de 300 mil plantas por hectare."

Os cientistas acreditam que as sementes possam propagar-se através dos cursos de água. Por isso, estão a ser feitas análises genéticas às diferentes manchas verdes que aparecem. Joaquim Sande Silva espera ser possível depois criar modelos que sistematizem a forma como os eucaliptos avançam no país, mas não esquece a importância da gestão rigorosa dos solos. "Há que controlar a vegetação que vai surgindo e cortar as árvores quando devem ser cortadas: aos dez ou 12 anos. Se assim for, o risco de expansão da espécie é relativamente reduzido, apesar de existir mesmo assim."

Neste momento, a maior reserva ecológica de Cuba está a arder há 11 dias e corre sérios riscos de destruição.

O realizado por investigadores da escola agrária de Coimbra está a ser conduzido no sentido de perceber como os eucaliptos se disseminam pela natureza. As árvores transportadas da Austrália no século XIX já foram consideradas o petróleo verde nos anos 1980, mas, com o tempo, os investigadores têm vindo a dizer que não serão as melhores amigas dos ecossistemas nacionais.

* e Catarina Maldonado Vasconcelos

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