Criadores, cientistas, engenheiros de som, estão a captar paisagens sonoras de três Países e guardá-las para a posteridade.
O som das gaivotas e das amarras dos barcos no porto de Sines, ou o som das águas do Rio Mira. São paisagens sonoras que o projeto Sonotomia está a captar. Numa residência artística que reuniu cientistas, criadores, tecnólogos e gestores culturais, foram registados sons para a posteridade. No projeto estão envolvidos Portugal, Espanha e Hungria, e a Portugal coube captar o som da água nos territórios marítimos, fluviais e lacustres.
Aos outros dois países cabem outras tarefas."O parceiro espanhol, localizado em Albarracin, o lugar onde nasce o o rio Tejo, é o responsável pela paisagens rurais, e o parceiro húngaro, pela captação das paisagens urbanas", explica o o coordenador do projeto Sonotomia. Levado a cabo pela Associação Pedra Angular, a associação que organiza anualmente o Festival Terras Sem Sombra, o projeto decorre no Alentejo.
É nesta região que está a ser recolhido todo este manancial. "Pareceu-nos que esta região, que tem índices de preservação notáveis ao nível do património cultural e natural, seria um excelente enquadramento", diz José António Falcão.
A organização considera importante ficar com todos estes registos porque alguns sons da natureza estão em extinção e outros a mudar rapidamente, podendo ser bem diferentes daqui por alguns anos. Neste mundo em transformação, os técnicos captaram, por isso, sons da paisagem industrial do porto de Sines ou dos rios Mira e Sado, onde predomina muita fauna e flora.
Nesta residência artística os parceiros húngaros são fundamentais para realizar o trabalho. "Possuem uma enorme especialidade na área das ciências do som, pois criaram até o Special Sound Institute."
A ideia, segundo garante o responsável pelo projeto, é ficar com este arquivo sonoro mas ir mais além: levar diferentes artistas a criarem composições musicais, instalações ou artes performativas que utilizem estes sons da natureza. "Queremos que isto sirva de estímulo para criar peças musicais ou que tenham uma sonoplastia elaborada e que venham a ser apresentadas em futuras edições do Festival Terras Sem Sombra", explica José António Falcão.
O coordenador do projeto Sonotomia nem imagina um mundo sem paisagens sonoras. "Um mundo sem som seria irremediavelmente pobre", admite. "Felizmente temos rádios que nos permitem o exercício de ouvir de uma forma diária", mas estamos a perder a capacidade de ouvir". Hoje existe uma "cacofonia da sociedade e temos também que aprender a fazer silêncio, sem ele não poderemos apreender o som em toda a sua riqueza", afirma. "Quem andar a pé pela paisagens sonoras do Alentejo apercebe-se de uma riqueza insuspeita que está a aguardar que a aprendamos", constata
O projeto envolve os três países do programa da União Europeia Europa Criativa, de apoio aos setores cultural e criativo e congrega algumas das mais inovadoras ações neste âmbito.