
José Ricardo Ferreira/TSF
Os investigadores lembram que noutros países asiáticos, mas também europeus já se comem insetos.
Uma equipa de dez investigadores do Instituto Politécnico de Viseu (IPV) e da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro está a desenvolver um produto alimentar criado à base de insetos. A farinha de zângão foi criada há mais de um ano e já recebeu um prémio. A ideia partiu de um desafio feito a Paula Correia.
"Quase que surgiu por brincadeira, numa conversa", recorda a docente e investigadora do IPV.
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O repto foi lançado pela colega Cristina Amaro da Costa, que é também investigadora e apicultura.
"Um dos problemas que temos [no setor] é a varroa, que é uma doença das abelhas e uma das maneiras de reduzir a incidência de varroa é extrair os zângãos das colmeias", explica.
Com base nesta realidade e "como estamos numa fase de alterar os nossos hábitos alimentares e consumirmos proteínas à base de insetos", a docente no Politécnico de Viseu achou que era "interessante" usar "estes zângãos de maneira a convencer os apicultores a extrair" estes insetos, numa operação que pode dar um "outro rendimento para além do mel".
Paula Correia decidiu aceitar o desafio e uma das primeiras opções que lhe surgiu, depois de várias experiências, foi a criação de uma farinha.
"Porque é uma maneira fácil de conservar e de utilizar. É um produto muito versátil que pode ser utilizado em várias coisas", adianta.
No total foi produzido pouco mais de um quilo e meio de farinha à base deste inseto. Segundo as investigadoras, "um quadro de zângão, que tem mais ou menos dois quilos, dará para cerca de 400 a 600 gramas de farinha".
"Pode ser rentável, temos é que encontrar os produtos onde consigamos mostrar que este produto é uma proteína animal que substituiu um quilo de bife", defende Cristina Amaro da Costa, acrescentando que a farinha pode ser utilizada para fazer suplementos alimentares ou mesmo produtos para desportistas.
Para já, a farinha já foi experimentada no mundo da cozinha. Deu origem a bolachas, biscoitos e pão.
[O sabor] é um bocadinho diferente, mas não é desagradável", descreve Paula Correia.
Por seu lado Cristina Amaro da Costa, afirma que "tem o sabor do bolo, mas no final tem um ligeiro sabor picante".
As professoras universitárias lembram que noutros países asiáticos, mas também europeus já se comem insetos. Consideram que o mercado nacional também tem que se adaptar a este produto que tem "bastante proteína".
A farinha de zângão deverá começar a ser comercializada dentro de um ano, mas para que isso aconteça tem primeiro que ser concluído o registo deste produto no catálogo nacional de alimentos.
A investigação ainda não chegou ao fim, aguardando aprovação de novo financiamento para que possa prosseguir o estudo sobre a nova utilização desta farinha de inseto.
O projeto valeu este ano ao grupo de investigadores do Instituto Politécnico de Viseu e da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro o segundo lugar no "Concurso Universitário & Politécnico Cultiva o teu futuro", da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP).