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A viagem começou a 19 de julho. Binelde Hyrcan tinha acabado de regressar de Paris e preparava-se para mostrar o seu trabalho em Lisboa quando o coronavírus obrigou o mundo a parar. O artista angolano não tinha como regressar a Luanda, viu dois amigos morreram com Covid-19 e decidiu partir. "Fiquei muito abalado de estar ali, ver o mundo a passar e o meu mundo a terminar, os meus amigos... Perdi dois amigos com covid e isso tudo começou a afetar-me. Um dia peguei na mochila e fui. Depois as exposições todas canceladas, sem dinheiro, sem ter o que viver, tudo parado, foi um choque".
Nas costas transporta a mochila que pesa quase 19 quilos, aqui leva a tenda onde dorme, troca comida por desenhos e sementes de bonsai e embondeiros e vai divulgando o seu trabalho. "Estou a aproveitar para fazer uma instalação artística, estou a plantar embondeiros desde a entrada de França, dentro de uns anos a costa francesa vai ter árvores plantadas por mim e ao mesmo tempo estou a oferecer sementes de embondeiros às pessoas que são queridas comigo".
Uma viagem a pé, de mochila às costas, entre Lisboa e Paris. Reportagem de Rute Fonseca.
A caminhada começou a 19 de julho, de Portugal e Espanha recorda a generosidade da maioria das pessoas. Em França, a realidade tem sido bem mais dura. "Mesmo quando estou numa aldeia as pessoas pensam que sou terrorista ou que tenho Covid-19, porque as pessoas estão com tanto medo que nem se aproximam".
Ao longo dos últimos três meses Binelde Hyrcan já dormiu num castelo, num cemitério, numa igreja, um javali destruiu-lhe a tenda... Memórias que estão a ser gravadas em papel, está a escrever um livro. "Com ilustrações e com o meu percurso que é quase inédito, penso que sou o primeiro angolano a fazer Lisboa-Paris a pé, já fizeram de bicicleta mas não a pé. É muito forte esta emoção, quero partilhar com o mundo e mostrar que ainda existe amor e ainda há pessoas generosas".
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Binelde Hyrcan está a cerca de 300 quilómetros de Paris, destino que escolheu por guardar memórias felizes da cidade, quando chegar pretende descansar duas semanas e depois vai tentar regressar a Luanda. Diz que tem saudades da família e dos amigos.