Enquanto prepara o almoço, Etelvina Lucas lembra à TSF a chuva que lhe entrou na cozinha no passado mês de dezembro. A mulher mora neste pequeno apartamento do lote 566 do bairro do Condado, em Marvila, há mais de 40 anos e conta que o senhorio, a Câmara Municipal de Lisboa, nunca fez qualquer obra no prédio.
Os problemas já são antigos e até já levaram Etelvina ao hospital: "Fiquei oito dias internada com falta de ar." No passado mês de dezembro, Etelvina acordou quando a chuva lhe começou a cair na cara. O chão do quarto, "com uma semana", acabou por ceder à água.
A vereadora da habitação, Filipa Roseta, visitou esta sexta-feira o bairro e a mulher, de 82 anos, fez questão de deixar um pedido: "Pela sua saúde, tire-me daqui."
Filipa Roseta respondeu a Etelvina que a câmara vai ver o que pode fazer, mas este não é um dos lotes em pior estado e por isso não é de intervenção prioritária. O pacote de quatro milhões de euros, anunciado pela câmara municipal, vai servir apenas para as obras nos lotes 563, 564 e 566, em que os sinais de degradação são mais evidentes. "O concurso vai ser lançado ainda em 2023", assegura a autarca.
Filipa Roseta lembra que a CML transferiu para a Gebalis 40 milhões de euros destinados à reabilitação de 11 bairros municipais geridos pela empresa até 2026. Mas não vai ser fácil, "é preciso perceber se a Gebalis consegue executar a verba que recebe da CML e também há dificuldade em encontrar empreiteiros, a construção está muito cara", lembra Filipa Roseta.
Uma das queixas mais recorrentes por parte de quem mora no Condado é a dificuldade em falar com os senhorios, ou seja, com a câmara de Lisboa e a Gebalis. O presidente da empresa municipal, Fernando Teixeira, garante que está atento às dificuldades que muitos têm e promete, ainda para este ano, a entrada em funcionamento de um call center destinado a ouvir as queixas de quem arrenda casas municipais "como parte de um grande investimento na área da comunicação".
Vivem neste bairro cerca de oito mil pessoas e há quase duas mil casas, construídas no início dos anos 1980. Os problemas acumulam-se: paredes que estão a cair, elevadores que não funcionam, casas em que chove. Os problemas são antigos e até já foram discutidos na última reunião pública do executivo.
Enquanto nada se resolve, e já depois de uma vigília, foi publicado um documentário sobre as condições de vida no bairro.