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Aos 49 anos, Carla Rodrigues, confessa à TSF "um pouco de vergonha" por fazer "tudo aquilo que não queria". Desempregada desde 2017 e com um filho de quatro anos, Carla precisa da ajuda dos pais para pagar contas e garantir algumas refeições.
Além de receber o Rendimento Social de Inserção (RSI), durante seis meses, Carla usou o Cartão Dá, da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), o primeiro projecto em Portugal que atribui ajuda alimentar através de um cartão electrónico, em vez do tradicional cabaz alimentar.
Carla elogia "o poder de escolha" desta modalidade de ajuda, já que o cartão lhe permite adquirir directamente os produtos de que precisa, enquanto com o cabaz, "temos de aceitar de bom grado, mas não é igual e faltam sempre coisas".
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Criado há um ano, o Cartão Dá já chegou a 3109 pessoas, a maioria desempregadas, famílias monoparentais ou que vivem sozinhas.
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O concelho da Amadora, onde Carla vive, foi um dos que distribuiu mais cartões, beneficiando cerca de 400 pessoas.
O coordenador do protocolo do RSI da Cruz Vermelha, na Amadora, João Eduardo Tavares, sublinha o "uso responsável" do cartão, por parte dos beneficiários. 94% dos produtos adquiridos são bens alimentares, com destaque para os frescos, como a fruta, legumes, lacticínios, carne e peixe fresco. 6% das compras destina-se a produtos de limpeza, higiene e material escolar. "Quem somos nós para dizer o que o outro deve comprar?", questiona João Eduardo Tavares, dando o exemplo de uma família que consegue agora comprar "fiambre e queijo em fatias para as sandes dos filhos", algo que não era possível com o cabaz alimentar.
João Eduardo Tavares sublinha que as famílias usam o cartão de forma responsável
A CVP já está a estudar o alargamento do programa. João Eduardo Tavares admite que "há margem para aumentar o valor" do cartão, o tempo limite de atribuição, o acompanhamento com um contrato de inserção associado e o alargamento a outras superfícies comerciais.
Nesta altura, as compras apenas podem ser feitas numa cadeia de supermercados.
O Cartão Dá é válido apenas por seis meses e o valor do apoio varia entre os 50 e 100 euros, consoante o número de pessoas do agregado familiar. As famílias numerosas recebem uma majoração de 10% por cada elemento da família.

João Eduardo Tavares defende também que este tipo de apoio deixe de estar sujeito ao pagamento do IVA, assumindo que esta medida está dependente do Ministério das Finanças. Mas se houver um reforço de verbas, a CVP poderá alargar o apoio do Cartão Dá a mais famílias ainda este ano. Até agora, o programa custou à Cruz Vermelha cerca de 580 mil euros.
Cruz Vermelha já pensa em alargar esta ajuda
No Outono, o governo prevê também avançar com um projecto-piloto de ajuda alimentar, através de cartões electrónicos, prestando apoio a 30 mil pessoas com maiores carências.