"Ponte...nas Ondas" sintoniza escolas com a paixão da rádio

Projeto aspira ao reconhecimento da UNESCO em dezembro como modelo de boas práticas do Património Cultural Imaterial.

Quando em 1995 foi inaugurada a travessia internacional que liga Monção a Salvaterra do Miño na Galiza, nasceu também uma ponte que conecta, através da rádio, alunos de escolas do Norte do país e da região galega. O projeto "Ponte...nas Ondas" (PNO) foi criado por um grupo de professores e deu aí os primeiros passos para uma aventura radiofónica, que agora pode estar em vias de ser reconhecida pela Unesco como modelo de boas práticas com o Património Cultural Imaterial. Pelo caminho, nestes 27 anos, foi lançando sementes de paixão pela rádio entre várias gerações de estudantes e também dando visibilidade a tradições e riquezas culturais portuguesas e galegas.

"A candidatura está na Unesco e a final da nossa Champions vai ser em dezembro", afirma Santiago Veloso, voz e um dos fundadores do projeto, considerando que a inscrição do PNO por aquela organização das Nações Unidas "vai ser importante porque é o reconhecimento de um modelo que pode ser replicado em qualquer parte do mundo".

O professor de língua e literatura galegas explica que a palavra ponte na Galiza tem dois significados: travessia e põe-te.

O que o PNO tem feito nas últimas quase três décadas é pôr alunos nas ondas da rádio com programas temáticos dedicados ao património imaterial das regiões da fronteira e onde a música tradicional assume lugar de destaque.

Xurxo Antúnez, de 32 anos, hoje músico e professor, foi um dos alunos galegos que em criança se pôs nas ondas. "Foi a rádio que fez com que me dedique hoje a ser professor de música tradicional. Se não fosse aquele momento, por estar tão envolvido na paixão da rádio e de participar no "Ponte...nas Ondas", talvez não me dedicasse a isso", afirma, recordando que uma das suas inspirações ainda hoje é o falecido tocador de concertina Nelson Vilarinho, conhecido no Norte de Portugal, como Vilarinho de Covas. Xurxo foi entrevistado há dias na rádio por Rui Soares e Tiago Garcia, ambos com 14 anos de idade e alunos da professora Esmeralda Carvalho no agrupamento de escolas de Valença. "Realmente o PNO para eles foi uma coisa ultrapassou aquela aula tradicional. Eles aderiram e tem sido uma longa caminhada muito agradável", afirma a docente, referindo que já participa com as suas turmas em programas de rádio do "Ponte...nas Ondas" desde o ano 2000. E considera que rádio é uma paixão que podia ir mais longe. "É uma pena que nas escolas ainda não esteja suficientemente explorada, porque efetivamente não estão equipadas com ateliês de rádio", disse.

Já na Galiza, segundo Santiago Veloso, a rádio contagiou o ensino. "Neste momento as oficinas de rádio estão no auge nas escolas galegas. É muito mais fácil hoje fazer um programa de áudio. Com um telefone, um aluno faz uma gravação e pode editá-la", considera, adiantando que os promotores do PNO "fizeram uma proposta à Junta da Galiza um programa de rádio escolar, que está a ter muito sucesso". O objetivo, após o reconhecimento daquele projeto como modelo de boas práticas, é que Portugal siga exemplo. "A partir da inscrição queremos propor que o Ministério da Educação incentive a rádio escolar", afirma.

O "Ponte...nas Ondas" nasceu no século passado. "Quando ainda nenhuma rádio fazia pela Internet, nós fizemos. A companhia telefónica de Espanha ofereceu-nos a possibilidade de experimentar. Nos anos 1998 e 1999, a Internet era utilizada apenas para ver o e-mail", recorda, lembrando que a primeira experiência envolveu escolas de Braga, Cáceres e Lugo com "programas gravados em cassete". A "época de ouro" do PNO aconteceu nos estúdios da Rádio Municipal de Tui, dirigida por José Font, que durante vários anos "recebia excursões de autocarro de alunos do Norte de Portugal e da Galiza para participar no dia do 'Ponte...nas Ondas". A pandemia veio travar o furor da rádio, mas o projeto continua a alimentar a paixão nos estudantes.

O Dia Mundial da Rádio será celebrado no próximo domingo com a publicação na página do PNO de programas radiofónicos realizados por alunos "de cerca de meia centena de estabelecimentos de ensino galegos e portugueses".

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