Práticas amigas do idoso no hospital de Cantanhede com reconhecimento internacional

Esta é uma iniciativa da Fundação John A. Hartford e do Institute for Healthcare Improvement.

O Hospital Arcebispo João Crisóstomo é a primeira instituição portuguesa e a segunda na Europa a ser incluída na lista de boas práticas de saúde amigas do idoso. Entre as rotinas estão as idas ao ginásio ou atividades de estimulação cognitiva.

Laurinda Andrade tem 77 anos e está internada no Hospital Arcebispo João Crisóstomo depois de uma operação ao joelho. É uma das utentes que participa na sessão de mobilidade em grupo e conta que se sente melhor. "Se ficasse parada isto custava a desenvolver. Penso que isto faz bem. (...) Um dia que vá melhor, faço a minha lida da casa. Espero fazer".

As sessões de mobilidade são um dos exemplos das práticas amigas do idoso implementadas no hospital de Cantanhede, integrada na lista internacional de participantes em Sistemas de Saúde Amigos do Idoso, intitulada "age friendly healthsystem".

Esta é uma iniciativa da Fundação John A. Hartford e do Institute for Healthcare Improvement, em parceria com a American Hospital Association (AHA) e a Catholic Health Association of the United States, Age friendly healthsystem.

O hospital de Cantanhede é a primeira instituição portuguesa e a segunda na Europa nesta lista de boas práticas de saúde. A metodologia baseia-se numa intervenção a partir de quatro elementos: a motivação, a medicação, o estado mental e a mobilidade.

Na medicação, por exemplo, uma das tentativas passa por ajustar o número de fármacos de cada utente. "O que nós fazemos também muito, muito, muito é chamada desprescrição, ou seja, reduzir o número de fármacos. Claro, sempre, tendo em atenção que estamos num ambiente hospitalar protegido e que podemos ir seguindo o doente e tentar perceber se é essencial aquele fármaco ou não", conta Teresa Vaio, diretora clínica do hospital.

A experiência, acrescenta, "é que, realmente, um doente que chega com 11 medicamentos, muitas vezes, fica com 5 ou 6, no máximo".

Todos os doentes que dão entrada no hospital são sujeitos a uma avaliação do estado mental. O objetivo, segundo a médica, é prevenir, tratar ou fazer o diagnóstico o mais precocemente possível de doenças como a depressão, a demência e os estados confusionais.

Entre as atividades desenvolvidas com os utentes está ainda a estimulação cognitiva, feita em grupo ou individualmente, em que se tenta que eles se lembrem, por exemplo, "das coisas que fazem e faziam, o que é típico das terras deles". Segundo terapeuta ocupacional Sara Silva, os doentes "sentem-se muito valorizados, além dos efeitos terapêuticos que são mais que comprovados". "Em termos de satisfação, é positivo".

Para uma melhor orientação, as alas da unidade hospitalar têm também cores diferentes, associando os quartos a frutos. Há relógios e calendários. Os utentes são também incentivados a usar a sua roupa, a realizar as tarefas do dia-a-dia para permitir uma maior independência e a realizar atividades de que gostam, como a leitura ou renda.

Os exercícios de mobilidade também acabam por acontecer fora de portas, na primavera e verão, e a fisioteraupeuta Inês Gaspar diz que tem "muitas vantagens". "Aqui o ambiente é muito controlado. A nível do treino de marcha, não tem obstáculos, pedras soltas e buracos e nós conseguimos transpor, por exemplo, a parte do treino de marcha para um ambiente mais real, na rua, com diferentes pisos. Há o ruído que muitas vezes os incomoda. Há a luminosidade que é diferente. E conseguimos preparar um bocadinho a alta, porque é esse o objetivo".

"Quando veem que tudo isto lhe é proposto e permitido e até mesmo incentivado, acabam por ficar surpresos mas de uma maneira boa", conta o enfermeiro Francisco Branco. Depois, acrescenta, os doentes "acabam por acolher estas sugestões e participar muito mais, sendo que, em termos de participação no processo de reabilitação, temos benefícios enormes".

O hospital conta com 500 doentes saídos, por ano, do internamento e cerca de 20 mil consultas e todos beneficiam desta metodologia. "Costumo dizer que o que é bom para os mais velhos é bom para todos os cidadãos", realça a presidente do conselho diretivo, Diana Vilela Breda.

Para Diana Vilela Breda a prevenção sai "mais barata" do que tratar os doentes: "por exemplo, a lógica da redução do tempo de internamento, de tirar a pessoa da cama, de tentar reabilitá-la cognitivamente, e não só fisicamente, significa que temos internamentos mais curtos. E não é por isso que o fazemos. É para rapidamente devolver a pessoa à comunidade. Mas significativa que temos internamentos mais curtos e poupamos dinheiro".

O programa dos 4M foi implementado em 2020, numa altura em que a média de idades dos utentes na convalescença rondava os 75 anos. O índice de envelhecimento do concelho de Cantanhede foi, em 2021, de 270, com a média nacional fixada em 183.

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