Primeira injeção de insulina foi há cem anos. Avanço é "brutal", mas ainda se morre de diabetes

Entrevista por Fernando Alves, o presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo assinala os avanços científicos da insulina e da forma como é aplicada, mas lamenta que a doença ainda mate "de forma direta e indireta".

Foi há cem anos, no Canadá, que Leonard Thompson, um jovem de 14 anos, se tornou no primeiro diabético a receber uma injeção de insulina. Daí para cá, e segundo as estimativas, um em cada dez adultos em todo o mundo vive com esta doença e, em Portugal, há cerca de um milhão de diabéticos.

O presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM), João Jácome de Castro assinala, em entrevista à TSF conduzida por Fernando Alves, que quando surgiu, a insulina era um "fármaco experimental".

Leonard Thompson "estava a morrer, malnutrido e desidratado, com 29 quilos" quando o pai autorizou o tratamento com o fármaco, descoberto e produzido "pela primeira vez no ano anterior", em 1921. Graças ao tratamento, o jovem canadiano viveu mais 13 anos numa altura em que "a diabetes era uma sentença de morte".

"Foi uma história de inovação e progresso a que se associou salvar-se um número incontável de vidas humanas", celebra o líder da SPEDM. No início, a insulina era obtida a partir de animais, um "extrato impuro" da "primeira proteína a ser sequenciada", ainda nos anos de 1950. Seriam precisos mais 20 anos para ser produzida insulina humana.

Desde aí, a administração do fármaco tornou-se "muito mais fisiológica" e estão já em fase de estudo "insulinas que podem ser administradas uma vez por semana". As bombas de insulina também já permitem "adotar um estilo de vida mais saudável", num avanço que tem sido "brutal", e que também afetou as agulhas, que deixaram de ser de "grande calibre" para terem apenas cinco milímetros. Mas João Jácome lamenta que ainda haja quem morra devido à diabetes.

"Morre-se por crises de hiperglicemia e desidratação, morre-se por causa da terapêutica da diabetes por coma hipoglicémico quando há um desajuste entre a administração do fármaco e a necessidade do doente e, sobretudo, morre-se por causa das consequência da diabetes: doença cardiovascular, cerebrovascular, insuficiência renal", explica o líder da SPEDM.

O desafio da doença é o de que "existe cada vez mais, tira anos e qualidade de vida" e vai matando de forma "direta e indireta".

A pandemia de Covid-19 contribuiu para um "aumento das complicações", nomeadamente com endocrinologistas a serem canalizados para outras áreas dos hospitais, mas está já em curso um "grande esforço nacional" para responder "ao que ficou por fazer".

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