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Foi um trabalho longo, sem imediatismo e contra imediatismos. Há pouco mais de um ano, o Governo pediu a um conjunto de profissionais que desenvolvessem conteúdos sobre literacia mediática. O secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media revela agora que o material está pronto e que será disponibilizado numa página com o título sugestivo LEME - Literatura e Educação Mediática Em Linha.
"Criámos um grupo de trabalho que inclui muitas pessoas, que vão desde professores investigadores, jornalistas, pessoas ligadas a várias entidades, como a Universidade do Minho, o ISCTE, a pessoas ligadas ao Sindicato dos Jornalistas, à Direção Geral da Educação, pessoas do CENJOR..." Em entrevista à TSF, Nuno Artur Silva elenca conteúdos áudio, imagens, jogos, planos de atividade e vídeos como alguns dos formatos e recursos que podem ser utilizados pelos professores da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário, enquanto alerta para a importância da literacia mediática.
O objetivo, frisa o secretário de Estado, é fazer um combate eficaz ao consumo acrítico de conteúdos. "É fundamental, cada vez mais, no mundo em que vivemos, nas plataformas digitais em que a informação nos chega, por todo o lado e de todas as maneiras", salienta Nuno Artur Silva. Os instrumentos agora abertos ao público, com gratuitidade, permitirão "descodificar aquilo que é de facto informação, e informação certa e confirmada, daquilo que é a desinformação".
Ouça a explicação de Nuno Artur Silva.
"Estamos todos vulneráveis neste momento a manifestações de desinformação, muitas vezes intencionais, muitas vezes deliberadas", alerta Nuno Artur Silva, que considera que a vulnerabilidade tem de ser combatida desde cedo com ações de formação no sentido de uma literacia mediática. E, usando uma imagem familiar em contexto pandémico, ilustra: "Perante esta pandemia de desinformação que as redes sociais - e não só - trazem, temos de criar mecanismos de vacinação e instrumentos que defendam as pessoas."
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Noutros países, chegou a surgir a polémica em torno de eleições manipuladas por correntes de notícias falsas, amplamente difundidas através de redes sociais diversas. Sociedades mais polarizadas correm riscos maiores, como os Estados Unidos, que "entraram numa lógica, mesmo com todas as extraordinárias instituições e com todo o extraordinário jornalismo que têm, em que a desinformação é um discurso central", argumenta o secretário de Estado.
Em território nacional, não há casos tão graves reportados, mas Nuno Artur Silva lembra que não se pode baixar a guarda, em nome da democracia. "Em Portugal, temos, felizmente, ainda, uma sociedade menos polarizada, onde é possível haver mais diálogo democrático, mas temos de nos prevenir para não radicalizar o discurso de cidadania e discurso político, devido a questões de desinformação que simplificam e deturpam o que está em jogo." Até porque a vitalidade da democracia está dependente da capacidade de os cidadãos se manterem informados. "Isso tem de ser uma evidência nas escolas."