- Comentar
A associação ambientalista Quercus considerou este sábado "um primeiro tiro da 'bazuca' fora do alvo" o projeto de construção da barragem do Pisão, no Alentejo, que vai ser financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Trata-se de "um projeto do Estado Novo que, por falta de viabilidade, nunca tinha sido executado", disse a associação, em comunicado enviado hoje à agência Lusa, sobre o Empreendimento de Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos do Crato (Portalegre), cujo contrato de financiamento foi assinado esta sexta-feira.
Mais conhecido como barragem do Pisão, o empreendimento "foi inscrito para investimento no PRR, apesar da oposição da Quercus e de outras entidades" durante a consulta pública do plano, disse.
Marta Leandro, vice-presidente da Quercus, teme o avanço da agricultura intensiva.
Subscrever newsletter
Subscreva a nossa newsletter e tenha as notícias no seu e-mail todos os dias
Segundo a Quercus, esta oposição deve-se aos "elevados impactes ambientais sobre o montado e destruição da agricultura tradicional sustentável" que o Empreendimento de Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos do Crato envolve, "pelo que se considera um primeiro tiro da 'bazuca' fora do alvo".
Na sexta-feira, no Crato, o primeiro-ministro, António Costa, presidiu à cerimónia de lançamento do projeto da barragem do Pisão e à assinatura do respetivo contrato de financiamento.
O contrato, no valor de 120 milhões de euros, foi assinado entre a estrutura de missão Recuperar Portugal e a Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo (CIMAA).
No global, está previsto que envolva um investimento de 171 milhões de euros, dos quais 120 milhões estão inscritos no PRR.
Quercus defende que apostar numa barragem para regar a agricultura é um erro ambiental.
Mas, para a Quercus, "o PRR, no contexto da crise económica e social devido à pandemia, deveria contribuir para o crescimento sustentável integrado no Pacto Ecológico Europeu (Green Deal) e não para financiar projetos destrutivos e inviáveis sem um grande investimento público e comunitário".
"Este empreendimento tem grandes impactes ambientais negativos, não apenas na destruição na área florestal de montado da região", mas também porque "os blocos de rega afastados vão promover o alastramento descontrolado das culturas superintensivas de regadio".
No comunicado, a associação ambientalista lamentou ainda que "a Comissão Europeia tenha permitido o financiamento" deste projeto" e prometeu continuar "a acompanhar atentamente e a escrutinar todo o processo".
Na cerimónia de sexta-feira, António Costa considerou que o projeto da barragem do Pisão é "simbólico do potencial transformador" permitido pelo PRR e vai permitir ao Alto Alentejo "desenvolver novas atividades que gerem emprego e rendimento que permitam atrair e fixar as populações".
As obras de construção vão arrancar até 2023, para que o empreendimento possa entrar em "pleno funcionamento" em 2026, segundo afirmou o presidente da Câmara do Crato, Joaquim Diogo.
Segundo a CIMAA, a futura estrutura vai beneficiar cerca de 110 mil pessoas nos 15 municípios do distrito de Portalegre e o seu "principal objetivo é garantir a disponibilidade de água para consumo urbano".
Além disso, visa "reconfigurar a atividade agrícola e criar oportunidades para novas atividades económicas, nomeadamente ao nível da agricultura, do turismo e no setor da energia", já que engloba também uma central fotovoltaica flutuante (cujo financiamento ficou de fora do PRR).