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Não se sabe quem puxa quem. Se é Vítor Romba, de 54 anos, que leva as duas filhas pela mão, na frente da Marcha Azul pelo Clima, ou se são elas que conduzem o pai. A motivação que o levou ali é apenas uma: quer que as crianças tenham "um planeta habitável" para crescer e viver.
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"Quero que haja mais respeito pela natureza e mais convicção no combate às alterações climáticas e crise ambiental", afirma, mas não acredita muito que a Conferência dos Oceanos, que esta semana tem reunido vários líderes mundiais na Altice Arena, venha traduzir-se em mudanças concretas. "Vão continuar a ser um conjunto de promessas que, na prática pouco vão adiantar", confessa Vítor Romba.
Entre as cerca de 400 pessoas da marcha, todas as gerações marcam presença, desde miúdos a graúdos. Jorge Marques, por exemplo, tem 70 anos, mas a idade já avançada não faz com que não se preocupe com o futuro.

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"Não tenho filhos, mas estou preocupado. Todos querem sobreviver, inclusive os banqueiros mas, como dizem os jovens, para já não há outro planeta e os recursos têm fim. Esta conferência devia servir para alertar as pessoas, fazê-las ganhar massa crítica. Os recursos estão a esgotar-se", explicou Jorge Marques.
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A Associação Zero está por trás da organização da marcha, com esperança de que as vozes dos ambientalistas que gritam que "o mar é para surfar, não é para perfurar" se façam ouvir dentro da Altice Arena, em Lisboa, onde decorre a Conferência dos Oceanos.
"Temos ouvido pedidos de desculpas pela inação e que nesta conferência tem de se passar das palavras às ações. É isso que vamos pedir hoje, vamos levantar as nossas vozes, de organizações nacionais e internacionais, e em conjunto vamos apelar a quem está lá dentro e toma as decisões para que, finalmente, deem a resposta que a emergência dos oceanos tanto precisa", defende Maria Santos, da Zero.
Já Maria Paixão marcha em representação da associação Último Recurso, que pretende usar o direito para combater as alterações climáticas e não está satisfeita com os atuais instrumentos jurídicos internacionais.
"Daqui pode sair um novo tratado internacional que proteja devidamente os oceanos e reconheça o seu papel no combate às alterações climáticas. Esperamos que pelo menos comecem aqui as negociações para um futuro tratado de alto mar de proteção de áreas marinhas. Existe a coligação 30 por 30, que pretende alcançar uma proteção de 30% dos oceanos até 2030 e era importante que daqui saíssem o início das negociações para que esse tratado fosse celebrado no futuro", sublinha.
"Apenas salvando os oceanos vamos salvar o clima"
Os partidos políticos também não quiseram ficar de fora. Miguel Costa Matos, secretário-geral da juventude socialista, considera essencial agir para salvar os oceanos, principalmente numa altura em que o mundo está com os olhos postos em Lisboa.
"É necessário haver decisões importantes para que, a nível internacional, não se faça mineração no oceano e para que se possa reduzir a poluição. Os oceanos são uma enorme fonte de biodiversidade e apenas salvando os oceanos vamos salvar o clima e a humanidade. Temos de nos deixar de declarações bonitas, cheias de palavras com floreados, e chegar a uma conclusão sobre o que podemos fazer, como Estados, para prevenir que as empresas façam extração desregulada e abusiva dos oceanos. Isso implica que neste momento façamos uma moratória para impedir que se consiga minerar nos oceanos e temos de conseguir, como um todo, olhar a regulação também nas artes piscatórias porque, muitas vezes, são elas que geram a poluição nos oceanos", afirmou o socialista.
Do lado do Bloco de Esquerda, Catarina Martins mostra-se descrente nos resultados da conferência e lembra que são os ativistas climáticos que, por todo o mundo, têm colocado o tema na agenda.
"É por isso que é com eles que estamos. Hoje esteve a discutir-se a mineração em mar profundo na cimeira, há resultado zero e os ativistas que aqui estão não aceitam a mineração do mar profundo porque sabem que destrói os ecossistemas que são essenciais à nossa vida. Em Portugal temos um ministro da Economia e do Mar que diz que até de petróleo gostaria de fazer prospeção se pudesse. Esta conferência não tem sequer metas vinculativas e, portanto, é em boa medida um grande número de propaganda dos vários governos com muito pouca consequência", acrescentou a coordenadora do BE.