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"A casa nativa. O retiro sagrado da memória. A eternidade paralisada". Um letreiro à porta de uma pequena casa em São Martinho de Anta, Sabrosa, resume a essência do local onde Miguel Torga nasceu, em 12 de agosto de 1907, e viveu até ao início da adolescência. E era para lá que voltava, frequentemente, em busca de descanso e inspiração. O escritor morreu há 27 anos.
A casa que agora também é museu fica a uns 100 metros do Espaço Miguel Torga, cujo diretor, João Luís Sequeira, fez uma visita guiada à TSF. Originalmente foi "uma casa humilde de agricultores". Depois de uma remodelação na década de 1960, promovida pela esposa do escritor, Andrée Crabbé Rocha, ficou com o aspeto que, praticamente, tem hoje. "Passou a ser quase uma casa de férias onde vinham passar alguns dias no Natal, na Páscoa e no verão", destaca.
Começando pelo hall de entrada é possível ver um conjunto de armas, algumas de caça, que Torga "terá adquirido em antiquários e que têm um caráter meramente decorativo", de acordo com João Luís Sequeira. O mesmo acontece com algumas peças de olaria de Bisalhães, que atualmente tem o estatuto de Património Mundial da UNESCO. "Miguel Torga escreveu também sobre este trabalho árduo dos oleiros" daquela aldeia do concelho de Vila Real.
A cozinha foi adaptada a um núcleo expositivo adaptado à vida do escritor, com documentos originais relativos ao seu nascimento e à sua vida, bem como uma tábua cronológica que dá conta do seu percurso biográfico e bibliográfico.
A sala é o "núcleo fundamental da casa" e "ainda preserva a sua autenticidade". Mantém algum mobiliário, louças e peças antigas. "Estamos perante alguns dos objetos que Miguel Torga utilizava e outros elementos com dimensão afetiva, como a balança do pai ou as rocas da mãe".
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Por seu lado, os quartos foram totalmente remodelados para acolher núcleos expositivos que "aproximassem o visitante da obra e vida do escritor", através de manuscritos, fotografias e primeiras edições entre outros objetos. "Serão, porventura, muito mais interessantes que uma cama ou uma mesinha de cabeceira", refere o diretor do Espaço Miguel Torga.
Uma das três exposições faz alusão ao território, outra à mulher e à filha de Miguel Torga, e outra à universalidade da obra do escritor. "Tem obras traduzidas para várias línguas. Estamos perante um escritor local, mas também do Mundo".
Nesta visita guiada vale também olhar o exterior da casa-museu, nomeadamente o jardim. "Uma das paixões assumidas por Miguel Torga eram as flores", realça o anfitrião. Ao lado há um quintal onde existem árvores de fruto, videiras e também permite alguns cultivos. "É um espaço complementar ao imóvel e muito interessante para visitar", nota João Luís Sequeira.
A casa onde Torga nasceu foi doado à Direção Regional de Cultura do Norte por Clara Crabbé Rocha, filha do escritor e professora catedrática da Universidade Nova de Lisboa, que ontem não pôde estar presente por razões de saúde. O projeto de recuperação, musealização e promoção representou um investimento de quase 350 mil euros, financiados em 90% pelo Turismo de Portugal. Para a visitar é preciso passar primeiro no Espaço Miguel Torga, que fica a uma centena de metros.