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O Presidente da República afirmou esta quinta-feira que, pessoalmente, não vê razões para que José Policarpo ou Manuel Clemente tenham "querido ocultar da justiça" crimes, escusando-se a fazer "juízos específicos" sobre a alegada ocultação de uma denúncia de abusos sexuais.
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O jornal Observador noticiou na quarta-feira que o atual cardeal patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, teve conhecimento de uma denúncia de abusos sexuais de menores relativa a um sacerdote do Patriarcado e chegou mesmo a encontrar-se pessoalmente com a vítima, mas optou por não comunicar o caso às autoridades civis e por manter o padre no ativo com funções de capelania.
"Aquilo que eu posso dizer - e nem é como Presidente da República, é como pessoa - é que o juízo que formulo sobre as pessoas e não os elementos da hierarquia católica, as pessoas D. José Policarpo e D. Manuel Clemente, é o de que não vejo em nenhum deles nenhuma razão para considerar que pudessem ter querido ocultar da justiça a prática de um crime. É a opinião que eu tenho, pessoal", respondeu Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas quando questionado sobre este caso na conferência de imprensa conjunta no âmbito da primeira visita de Estado a Portugal do Presidente de Cabo Verde.
Marcelo Rebelo de Sousa referiu que foi suscitada a questão quanto a um caso que "teria envolvido duas figuras da igreja portuguesa, dois cardeais patriarcas em momentos distintos".

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"O cardeal patriarca D. José Policarpo há 20 anos que teria considerado não existir situação que justificasse uma participação ao Ministério Público e portanto às autoridades judiciais e teria tomado uma iniciativa em termos hierárquicos internos quanto ao alegado envolvido nesse caso e depois, 20 anos volvidos, o atual cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, que teria ponderado o facto de os crimes estarem prescritos e a alegadamente a vontade da vítima de não querer publicitar ou não querer desencadear procedimento sobre essa matéria", elencou.
Para lá da sua opinião pessoal, o Presidente da República afirmou que "há a comissão [independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja] e há órgãos competentes para apreciar ou reapreciar estas matérias".
"E, se for caso disso, compete à comissão e a esses órgãos competentes, ponderarem as várias situações para não estar a entrar em juízos específicos que nem como pessoa, nem como Presidente da República portuguesa devo fazer. Cabe-lhes a eles exercer os poderes", remeteu.
Marcelo Rebelo de Sousa tinha começado por enfatizar o "consenso quase unânime" quanto "à condenação da violação não apenas da ética, da moral, mas do direito, porque se trata de atividades criminosas, como aquelas que justificaram a constituição" da referida comissão.
"O Presidente da República tem acompanhado o trabalho e apoiado o trabalho da comissão", disse.