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A Câmara Municipal de Setúbal não viu nada de mal em ter uma técnica que falava russo no acolhimento aos refugiados ucranianos. É o que consta no relatório da Comissão Eventual de Fiscalização da Conduta da Câmara setubalense sobre o acolhimento aos refugiados ucranianos na cidade, a que a TSF teve acesso.
O executivo liderado por André Martins desvalorizou os alertas feitos pela Associação Anjos da Misericórdia, uma entidade criada em 2014, logo após a invasão da Crimeia, para ajudar famílias ucranianas atingidas por esse conflito, de que não era muito adequado ter dois cidadãos de origem russa a acolher os refugiados ucranianos que chegavam a Setúbal.
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A nota está no relatório da Comissão Eventual de Fiscalização da Conduta da Câmara Municipal de Setúbal sobre o acolhimento dos cidadãos vindos da Ucrânia. No documento consultado pela TSF é referido que, logo no dia 28 de fevereiro, a Associação Anjos da Misericórdia avisou Conceição Loureiro, coordenadora da Linha Municipal de Apoio aos Refugiados, de que ter Yulia Kashina, da Associação EDINSTVO, e Igor Kashin, cidadãos de origem russa, a acolher ucranianos podia causar algum desconforto em quem chegava, fugido da guerra que tinha tido início há poucos dias. Por isso, foi solicitada uma reunião com Conceição Loureiro, que acabou por ter lugar a 8 de abril.
Nesse encontro, foi indicado que o executivo camarário, quando confrontado com o incómodo provocado em cidadãos ucranianos por terem pessoas de nacionalidade russa a fazer o acolhimento, não via nada de preocupante.
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No relatório, é sublinhado que a Associação Anjos da Misericórdia compreendia a questão da língua no acolhimento de ucranianos, mas alertou para a falta de bom senso em ter cidadãos russos a colocar questões, que consideraram não essenciais, a pessoas ucranianas. Neste documento, é referido ainda que, na reunião, a associação mostrou toda a disponibilidade para colaborar no processo de acolhimento dos refugiados em Setúbal.
Outra das notas em destaque no relatório surge da audição de Maria das Dores Meira. A antiga presidente da Câmara Municipal de Setúbal, ouvida no último dia de janeiro deste ano, afirmou que houve falta de sensibilidade do executivo liderado por André Martins, apesar de não considerar Igor Khashin uma pessoa suspeita. Ainda assim, Maria das Dores Meira sublinha que Khashin não podia estar a receber refugiados vindos da Ucrânia pelo facto de ser russo.
No entanto, aquela que liderou o executivo setubalense entre 2009 e 2021 reconheceu que não manifestou as suas preocupações e sensibilidade junto dos atuais responsáveis autárquicos, sobre a participação de Igor Khashin durante este processo de receção aos refugiados.
A TSF já contactou a Câmara Municipal de Setúbal, mas, até agora, sem sucesso.