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O governo tem de admitir que há um problema para depois poder corrigi-lo. Esta é a convicção do presidente do Sindicato Independente dos Médicos que lança o desafio ao ministério da Saúde "contratar médicos para a vacinação e para estas áreas dedicadas à Covid".
Perante o estudo divulgado esta quarta-feira a indicar que há de novo mais de um milhão de pessoas sem médico de família e que muita atividade dos centros de saúde está por recuperar, Roque da Cunha diz no Fórum da TSF que é necessário procurar ajuda para os médicos de família.
"Estamos a falar de 13 milhões de consultas a menos. Estamos a falar de pessoas que vão morrer mais cedo, AVC que não vão ser identificados mais cedo, cancros que vão metastizar por uma razão simples - e eu digo com as palavras todas - o Ministério da Saúde ainda hoje não reconhece que existe aqui um problema. E qual é que era a solução: retirar algumas destas tarefas a que se juntam também a questão do acompanhamento dos doentes infetados e contratar médicos para a vacinação e para estas áreas dedicadas à Covid. Há médicos disponíveis, a Ordem dos Médicos inclusivamente deu ao senhor secretário de Estado da Saúde cerca de dois mil médicos que nunca foram contactados para este efeito", sustenta.

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No mesmo plano, Guadalupe Simões do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses diz que faltam médicos mas também enfermeiros.
Ouça as declarações de Guadalupe Simões
No parlamento, a ministra da Saúde foi confrontada com os dados do estudo encomendado pela Associação de Administradores hospitalares e pela Ordem dos Médicos. Marta Temido recusa concentrar-se nos cuidados de saúde que ficaram por prestar no ano passado: "Quando comparamos anos de atividade assistencial de cuidados de saúde primários não conseguiremos repor aquilo que foi a atividade não realizada. O que nos interessa é retomar níveis de atividade em anos pré-pandémicos e isso o serviço nacional de saúde está a conseguir fazer."
A governante argumenta ainda que "tem sido muito confundido aquilo que é a diminuição da atividade assistencial do ano 2020 com aquilo que falta fazer".
"Infelizmente aquilo que falta fazer em muitos casos não poderá ser recuperado. Na área hospitalar, isso é mais evidente, quando são cirurgias e algumas consultas que ficaram por realizar em cuidados de saúde primários." Marta Temido aclara de que cuidados se trata: "Estamos a falar de seguimentos de grávidas que tiveram as suas crianças, estamos a falar de acompanhamento de doentes crónicos que tiveram uma evolução."
A ministra da Saúde garante que "não há propriamente um número de consultas que possa ser comparado", e que todas as entidades que falam publicamente têm esta perceção, embora não o manifestem, "talvez" por falta de tempo: "Não conseguiremos repor aquilo que foi a atividade não realizada. O que nos interessa é retomar níveis de atividade que foram mantidos em anos pré-pandémicos, e isso o Serviço Nacional de Saúde está a conseguir fazer."
Ouça a ministra, sobre a recuperação dos cuidados de saúde
Vítor Veloso da Liga Portuguesa contra o Cancro não gostou da forma como a ministra olha para o que tem ficado por tratar nos centros de saúde.
Ouça as declarações de Vítor Veloso
Marta Temido incomodou também Alexandre Guedes da Silva, o presidente da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla que se queixa de uma tutela que não ouve os representantes dos doentes.
Ouça as declarações de Alexandre Guedes da Silva