"Vai ser difícil não associar subida brusca" de casos em Lisboa à festa do Sporting

Carmo Gomes diz à TSF que houve um crescimento de novos casos, sobretudo na faixa etária dos 20 aos 29. Epidemiologista exige reforço da testagem e deixa ainda um alerta sobre a variante indiana.

O epidemiologista Manuel Carmo Gomes afirma que há uma "subida brusca" de novos casos na região de Lisboa e Vale do Tejo, sobretudo na faixa etária dos 20 aos 29 anos e que é difícil não associar à festa do título do Sporting.

"Estou a falar de Lisboa e Vale do Tejo. Estamos com uma incidência particularmente elevada no grupo dos 20 aos 29 anos de idade. Este grupo teve uma subida brusca no dia 17/18, isto ocorre cinco, seis dias após aquele evento [festa do Sporting]. Nos próximos dias, se continua a este ritmo, vamos ter um impacto que vai ser difícil de não associar ao que aconteceu no dia 12", explica o especialista à TSF.

Carmo Gomes assume estar "preocupado" com o aumento da positividade dos testes realizados nas últimas semanas. Se há uma semana era de 1%, agora é de 1,7%, como refere o epidemiologista.

Perante este cenário, Carmo Gomes insta as autoridades sanitárias a seguir o que foi delineado em março, apelando ao reforço dos testes à Covid-19. "Temos de reforçar a testagem muito elevada, conseguindo que a percentagem de casos seja muito baixinha, inferior de preferência a 3 a 4%. Temos de não deixar atrasar os rastreios dos contactos dos casos confirmados, que não passem de 24 horas. Temos de registar os casos confirmados em 24 horas e temos de acompanhar as variantes", avisa.

Sobre as novas estirpes, o docente da Faculdade de Ciências, da Universidade de Lisboa, condena as declarações do presidente do Turismo do Algarve, que defendeu a entrada de turistas britânicos em território nacional sem a obrigação de um teste negativo. Ora, Carmo Gomes lamenta que ainda haja pessoas que não aprenderam com os erros cometidos no passado, alertando para a perigosidade da nova variante indiana.

"Parece ser mais transmissível até a convencional variante britânica. Aqui em Portugal já temos 10 casos desta variante, portanto, se o presidente do Turismo do Algarve está interessado em ter um surto grande de casos de Covid liderados pela variante indiana é um bom princípio", ironiza. "Depois, vai assistir às consequências não no imediato, mas no médio prazo. O verão dura muitos meses e o Algarve deve pensar o turismo não no imediato, mas sim nos meses de julho, agosto, setembro", defende.

"A melhor forma de arranjar problemas é importar a variante indiana para o Algarve", alerta Carmo Gomes, que critica a "leviandade" com que se trata este assunto. Neste momento, Inglaterra está com um problema sério, na região de Londres e no noroeste, por causa desta variante indiana. Os próprios ingleses estão a ponderar atrasar o último passo do desconfinamento por causa desta variante."

O matemático Óscar Felgueiras, um dos especialistas que tem trabalhado com o Governo, adianta também que os festejos do Sporting são uma "explicação plausível" para a "subida significativa" dos casos em Lisboa. Feitas as contas, nos últimos 14 dias "houve 600 casos" na cidade, um "fenómeno local que importa entender".

Os festejos "coincidem temporalmente" com o aumento dos casos e o "comportamento de massas tem impacto nos números". Nos próximos dias é "natural" que os casos aumentem ainda mais mas, se corresponderem de facto a este episódio dos festejos, não deverão ter "grande sustentabilidade no tempo" e a incidência deve reduzir-se.

*Notícia atualizada às 20h08

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