As dioceses portuguesas comunicaram a existência de 76 sacerdotes suspeitos de abusos sexuais na Igreja Católica, dos quais foram suspensos apenas seis. Vários já morreram e ainda há oito dioceses que não se pronunciaram sobre o assunto.
Braga, Évora, Guarda, Angra e Viana do Castelo, foram as únicas dioceses do país a suspender sacerdotes de funções até ao momento.
Lisboa
O Patriarcado de Lisboa foi o que recebeu a maior lista de suspeitos, com 24 sacerdotes, mas não suspendeu ninguém. Cinco ainda estão no ativo.
Em comunicado, o Patriarcado adianta que oito nomes respeitam a sacerdotes já falecidos, dois são padres doentes e retirados do ministério, três de sacerdotes sem qualquer nomeação, quatro são nomes desconhecidos, além de um leigo e de um ex-padre.
Porto
A lista portuense é a segunda mais numerosa, com 12 suspeitos, mas a diocese local seguiu a mesma via da capital. A Diocese do Porto informou que quatro já morreram e um já não pertence à diocese. Os restantes sete estão a ser investigados.
O bispo portuense, Manuel Linda, "já reuniu com diversas pessoas", sendo que algumas vivem fora da área de incidência, sem que nenhum indício de crime tenha sido encontrado.
Se, entretanto, aparecerem indícios fiáveis, o bispo diocesano não hesitará em suspender preventivamente o clérigo em causa", avisa a Diocese.
Braga
Na cidade dos arcebispos, como é conhecida, a arquidiocese revelou que afastou um padre suspeito de abusos sexuais, cujo nome consta na lista da Comissão o Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal. A decisão aconteceu "depois de um diálogo com o Senhor Arcebispo".
Ao todo, a lista de suspeitos da região contém oito nomes, entre os quais estão três sacerdotes "já falecidos", um que "não corresponde a nenhum sacerdote da Arquidiocese de Braga" e um que já foi "alvo de um processo canónico por abuso sexual de menores" e que resultou na aplicação de medidas disciplinares.
Guarda
No interior, a Diocese da Guarda anunciou esta sexta-feira o afastamento cautelar de um padre por suspeitas de abuso sexual de menores, dando início a uma investigação.
Da lista de dois suspeitos de abusos sexuais, está ainda um sacerdote que morreu em 1980 "sendo, por isso, de todo impossível fazer ainda mais sérias e justas diligências de investigação".
Angra
Atravessando uma parte do Atlântico, foram identificados oito suspeitos na Diocese de Angra, dos quais dois foram suspensos.
Quatro dos suspeitos já morreram e "dois não foram considerados casos relevantes pela comissão independente ao cruzar dados entre as denúncias feitas à comissão e a investigação histórica aos arquivos da diocese", revelou em comunicado.
Évora
A Diocese de Évora suspendeu um dos dois sacerdotes suspeitos de abusos sexuais que constam na lista entregue pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja em Portugal.
"O primeiro deles morreu há alguns anos. O processo considera-se extinto. O segundo nome não trazia nenhuma informação complementar e a investigação efetuada nos arquivos diocesanos não encontrou nenhuma denúncia ou inquirição prévias", revela o comunicado, acrescentando que o arcebispo "solicitou de seguida à Comissão Independente eventuais dados suplementares que permitissem iniciar a investigação".
Aveiro
Mais a norte no país, a Diocese de Aveiro recebeu uma lista de três sacerdotes suspeitos de abusos sexuais e um deles continuam em funções, já que viu o seu caso investigado e arquivado pelo Ministério Público.
Em comunicado, o prelado adianta que, em relação ao sacerdote investigado, "o Dicastério da Doutrina da Fé [Vaticano] (...) pede que o bispo diocesano continue a exercer o direito de vigilância".
Os outros dois já morreram.
Lamego
A Diocese de Lamego recebeu dois nomes de suspeitos de abusos sexuais em funções e pediu mais informações à Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja em Portugal.
Para já, nenhum foi suspenso de funções.
Viana do Castelo
A Diocese de Viana do Castelo informou em comunicado que recebeu o nome de um suspeito, tendo "comunicado a notificação às autoridades civis e canónicas competentes".
O padre em questão "confirmou os factos de que é acusado e comunicou a sua decisão de se afastar do exercício das suas funções", informa a diocese em comunicado.
Viseu
O bispo de Viseu, António Luciano Costa, recebeu uma lista de cinco nomes suspeitos de abusos sexuais e informou que "todos eles já eram do seu conhecimento e já tinham sido tratados segundo as normas aplicáveis, quer a nível canónico, quer a nível civil, tendo também sido entregues ao Ministério Público".
O bispo viseense não revelou se houve algum dos sacerdotes que tenha sido suspenso.
Algarve
No sul do país, a Diocese do Algarve identificou dois sacerdotes suspeitos, mas nenhum foi suspenso de funções.
Dos dois nomes, "um deles referente a um caso que desencadeou em 2021 uma 'investigação' com 'informação ao Ministério Público' e à Santa Sé e que foi arquivado e o outro que 'não corresponde a nenhum sacerdote incardinado', 'nem se encontra nos arquivos diocesanos alguma referência a seu respeito'".
Funchal
Na outra ilha, a Diocese do Funchal, na ilha da Madeira, recebeu uma lista de quatro sacerdotes suspeitos.
"Apesar de nenhum daqueles nomes exercer atualmente qualquer ofício eclesiástico na diocese (um deles é mesmo desconhecido), a Diocese do Funchal não deixará de tomar a sério esta indicação e de procurar eventuais procedimentos canónicos e civis se aplicáveis no respetivo caso concreto", referiu a diocese madeirense.
Oito dioceses não apresentaram números e uma não tem qualquer suspeito
As dioceses de Bragança-Miranda, Coimbra, Vila Real, Beja, Leiria-Fátima, Portalegre-Castelo Branco, Santarém e Setúbal não apresentaram quaisquer números das listas enviadas pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja em Portugal.
Entre os casos mais paradigmáticos estão Leiria-Fátima, liderado por José Ornelas que garantiu à TSF reagir no início da próxima semana, e Santarém, cujo bispo afirma não ter recebido nenhum envelope e ter havido um problema geográfico.
O bispo de Beja, por sua vez, defende o perdão dos abusadores e recusou receber o envelope da Comissão Independente.
A Diocese das Forças Armadas e das Forças de Segurança não têm qualquer suspeito identificado pela investigação.