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Setenta e cinco queixas por dia, três a cada hora. Em 2020, o crime de violência doméstica voltou a ser o mais reportado junto da PSP e da GNR, de acordo com os dados divulgados esta sexta-feira pelo Ministério da Administração Interna.
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Em 2020, a PSP e GNR receberam, em média, 2300 participações de violência doméstica por mês, revela o relatório anual de monitorização, publicado pela secretaria-geral do Ministério da Administração Interna. No ano passado, e à semelhança de anos anteriores, a violência doméstica foi o crime mais reportado a nível nacional e o segundo mais registado. O estatuto de vítima foi atribuído em 87% dos casos, mas perto de 10% das vítimas prescindiram deste direito.
Frederico Moyano Marques, da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), considera que estes números suscitam preocupação. "O facto de ser o crime contra as pessoas mais participado em Portugal e o segundo crime em termos gerais mais participado em Portugal, a seguir ao furto é algo que nos deve preocupar e que nos tem preocupado a todos - Estado e sociedade civil -, daí os esforços que têm sido feitos na prevenção e no combate deste fenómeno", refere Frederico Moyano Marques, em declarações à TSF.
Ouça as declarações do responsável da APAV.
Estes relatos, apesar de numerosos, constituirão apenas uma parte das ocorrências. "Especulando um pouco mas também baseado na nossa experiência de terreno, diria que poderá ter muito a ver com o receio." Frederico Moyano Marques, da APAV, explica: "Não é pelo facto de uma vítima relatar um crime de violência doméstica que deixa instantaneamente de ser vítima e de estar à mercê do agressor. Apesar de avançar com a denúncia, pode acontecer que essas vítimas continuem a ser inibidas, intimidadas, maltratadas, por parte do agressor, controladas..."
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O responsável da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima admite, por isso, que há casos em que, num momento posterior, quem faz queixa acabe por rejeitar o estatuto de vítima.
De acordo com o relatório anual de monitorização da violência doméstica quase 80% dos processo-crime foram arquivados; a grande maioria por falta de prova. Para o dirigente da APAV, este relatório mostra que ainda há muito a fazer e aponta dois exemplos: um tem que ver com a "intervenção do sistema de Justiça como um todo", nas 72 horas que seguem a denúncia.

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"Tem havido esforços, quer da parte do Ministério Público, quer da parte das polícias, até através de instrumentos de regulação interna recentemente aprovados, no sentido de promover uma intervenção o mais urgente possível. Nem sempre assim acontece."
O segundo exemplo, assinala Frederico Moyano Marques, tem que ver com a "falta de vontade da vítima em, fazendo uso de um direito que lhe assiste, que é o de recusar depor, prestar declarações". É preciso, defende o responsável, que os processos deixem de se basear apenas nos relatos da vítima e que haja, da parte da Justiça, uma análise exploratória e recolha de provas. "Só com a diversificação na recolha da prova podemos garantir um abaixamento do número de arquivamentos, que é bastante elevado", garante Frederico Moyano Marques.
De acordo com o relatório anual de monitorização da violência doméstica, apesar de este continuar a ser o crime mais reportado, em 2020 registou-se uma ligeira descida (de 6%) no número de participações. A PSP e a GNR detiveram 2073 suspeitos deste tipo de crime.