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Por entre as notícias da execução de um indigenista brasileiro e de um jornalista inglês numa região da Amazónia que está nas mãos de traficantes, caçadores e pescadores ilegais e invasores de terras indígenas, surgiu o relato de um bingo organizado e destinado a garimpeiros onde um dos prémios é... uma mulher.
O grupo de Whatsapp "Amigos do Rio Uraricoera", principal via fluvial utilizada pelos garimpeiros na região da Terra Yanomani, no estado do Roraima, recebeu o anúncio de um evento chamado "Bingo da Nayara", a decorrer no "Cabaré do Taituba", cujo prémio para quem completar a cartela é 50 gramas de ouro - equivalente a uns 3000 euros.
O terceiro prémio é um relógio, mas o segundo chama mais a atenção - uma mulher.
O evento foi denunciado ao portal G1, da Rede Globo, que entrou em contacto com os organizadores. Eles disseram que "não vai ter mais bingo", provavelmente dada a repercussão negativa.
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Revólveres e whisky também são prémios comuns noutros bingos de uma região que é um mundo paralelo. Há mini cidades erguidas por garimpeiros ilegais com restaurantes, dentistas e bares wifi em funcionamento, além de muitos cabarés, bordéis e festas de carnaval.
Os garimpeiros do Roraima vivem fora da lei pela exploração ilegal de ouro mas também por causarem desmatamento, poluição no rio e histórico de agressão às comunidades indígenas locais.
Em 2021, o garimpo ilegal causou a morte de 109 índios, segundo o relatório Conflitos no Campo Brasil, divulgado em abril pela Comissão Pastoral da Terra.
O indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips foram mortos no estado vizinho do Amazonas por, segundo as investigações, uma organização criminosa de pescadores ilegais com ligação ao narcotráfico.