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São muitos os portugueses que já puseram de parte o consumo de alimentos processados para privilegiarem os naturais, por pensaram que são mais saudáveis. Mas no último programa Campus Sul, focado na produção alimentar, a investigadora Célia Quintas alertou que alguns alimentos, quando consumidos ao natural, podem transmitir uma "enorme quantidade de bactérias".
"A informação é recebida de forma muito confusa pelos consumidores. Na verdade, não podemos incentivar as pessoas a não ingerir leite não tratado termicamente, que é um processamento alimentar possível, mas há casos desses. As pessoas ouvem isto, que não devem ingerir alimentos processados, e dizem que preferem leite cru, mas esta matéria-prima não processada pode transmitir uma enorme quantidade de bactérias patogénicas, entre elas a bactéria que causa a tuberculose, salmonelas ou outras. Era muito importante que tivéssemos a cautela de utilizar uma linguagem que não confundisse os consumidores", avisou Célia Quintas, professora coordenadora do departamento de engenharia alimentar no Instituto Superior de Engenharia da Universidade do Algarve.
A investigadora não tem dúvidas de que é perigoso "diabolizarmos o processamento de alimentos".
Ouça aqui na íntegra o programa Campus Sul sobre produção alimentar
"Foi o processamento que permitiu uma distribuição alimentar em segurança e a distribuição alimentar em segurança também contribui para diminuir a desnutrição", lembrou a professora.
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No que diz respeito à produção alimentar, as três universidades que compõem o Campus Sul - a Universidade Nova de Lisboa, a Universidade de Évora e a Universidade do Algarve - têm procurado conciliar a produção agrária com a qualidade ambiental. Têm, focado nesse problema, um doutoramento em Ciências Agrárias e Ambientais que se centra na investigação e na conciliação das práticas de produção das ciências agrárias com as práticas ambientais.
"Cada vez mais estas duas coisas estão absolutamente relacionadas: conseguir ter uma boa gestão do solo, da água, energia e todos os fatores de produção é absolutamente fundamental numa ótica das alterações climáticas e, portanto, com todas as práticas ambientais, afirmou Fátima Batista, professora na Universidade de Évora, do departamento de Engenharia Rural.
A escassez de água é outro dos problemas no centro das preocupações. Por isso têm como objetivo melhorar todas as práticas que ajudem a melhorar a eficiência da utilização de água.
"Claro que muita da investigação também se foca em encontrar culturas mais adaptadas à escassez de água e na melhoria da gestão da água. Podemos, com boas práticas culturais e tecnologia, tentar utilizar a água apenas quando, onde e se necessário. No fundo, aplicar as práticas da agricultura de precisão e ter muita atenção com a água, que é um aspeto absolutamente fundamental", explicou a também investigadora no MED - Instituto Mediterrâneo para Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento.
Já Margarida Oliveira, professora catedrática e vice-diretora do ITQB Nova - Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier, reforçou que o Campus Sul fez com que se começasse a investir "na criação de novas iniciativas de atuação conjunta, quer ao nível de ensino, quer ao nível de investigação e cooperação".