O pastor fugitivoAndava o rebanho à solta, no Linhó, em Sintra. As cabras, habituadas ao pastor, pastoreavam em liberdade, apenas condicionada pelas cercas que as impedem de ir provar outros pastos, conhecer outros mundos, viajar para outros lugares fora daquele espaço. No fundo, o rebanho está numa espécie de prisão domiciliária. Ou, numa outra versão, em regime aberto. Durante o dia, vagueiam pelas pastagens. À noite, recolhem ao abrigo onde ficam até novo nascer do sol.
O carro, o motorista e o presidenteA acusação feita pela magistrada do tribunal não era nada meiga para o presidente. Acusava o homem, e está escrito nos autos, assim mesmo, acusava o homem "de utilizar a viatura da câmara municipal para ir ter com amantes", a vários locais, no país e do estrangeiro. Na descrição do crime, o peculato de uso. No tribunal, o motorista, que era dispensado pelo presidente quando este, "a altas horas da noite", segundo os autos, pegava no carro da câmara e rumava a outras paragens fora do concelho, o motorista recordava que o presidente fazia muitos quilómetros, gastava combustível e portagens à conta do orçamento para tratar da sua vasta, preenchida e complicada vida amorosa. O tribunal considerou que as viagens fora do chamado horário de expediente deveriam ser punidas. Na prática, o presidente não fazia mais do que a sua obrigação. Um presidente da câmara não tem horários, é sempre presidente, a qualquer hora do dia ou da noite, esteja no concelho ou fora dele.