Estórias do Fim da Rua

Detalhes da vida de um país que, de facto, existe. São crónicas dos dias, sempre baseadas em factos. Qualquer semelhança com a realidade não é pura coincidência. Uma rubrica de Pedro Cruz.

O pastor fugitivo

Andava o rebanho à solta, no Linhó, em Sintra. As cabras, habituadas ao pastor, pastoreavam em liberdade, apenas condicionada pelas cercas que as impedem de ir provar outros pastos, conhecer outros mundos, viajar para outros lugares fora daquele espaço. No fundo, o rebanho está numa espécie de prisão domiciliária. Ou, numa outra versão, em regime aberto. Durante o dia, vagueiam pelas pastagens. À noite, recolhem ao abrigo onde ficam até novo nascer do sol.

É mais ou menos a mesma vida do pastor. De dia, vigia as cabras, tenta guiar o rebanho para os melhores locais, com ervas mais verdes ou folhagem mais saborosa. À noite, o pastor recolhe ao chamado estabelecimento prisional do Linhó, onde cumpre pena em regime aberto - como as cabras - por crimes de roubo e furto.

Um dia destes, o pastor abandonou as cabras no seu dia a dia e foi-se embora. Fugiu. Não regressou, à noite, à cela que lhe está destinada. Segundo o relato do Jornal de Notícias, dos dez anos de pena a que foi condenado, já só faltava cumprir a fase final do castigo. Agora, depois de abandonar o rebanho, as pastagens e o estabelecimento prisional, a pouco tempo do final da pena, o pastor, de 26 anos, anda a ser procurado pelas autoridades. Foi aberto um inquérito interno, não se sabe se por causa de o pastor ter abandonado o rebanho à sua sorte, ou se por ter abandonado a prisão. Ele fugiu, mas o rebanho, que não cometeu qualquer crime, continua condenado às cercas e ao recolher obrigatório do curral. Mesmo sem pastor.

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