Levante-se o Réu

Crónicas de justiça de Rui Cardoso Martins. São relatos de vidas que se cruzam com o poder da lei, o braço da justiça e as circunstâncias de cada um. E quando se levanta o réu, é o juiz que decide. Às sextas, depois das 18h30.

Levante-se o Réu

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Facadas no Porto, a sentença

Há três semanas contei-vos o julgamento dos cinco rapazes que, há um ano, numa noite de bebedeira e violência inexplicável na Rua da Alegria, espancaram um homem com um extintor na cara, com um taco de basebol na cabeça, mais murros e pontapés no corpo desmaiado e, pelo meio, oito facadas nas costas de Gabriel Pedroto, deixando-o para morrer ao lado da mulher e da filha pequena. No dia seguinte partilharam um vídeo completo da cena, agora musicada com gangsta rap, vejam como ele ficou, yô, não sabia com quem se metia, yô, qualquer coisa assim.

Levante-se o Réu

Portuenses desenganadas

Entraram muitos acusados na sala, o Luís, o Daniel e o Ricardo até tinham vindo de algemas nos pulsos, estavam ainda o Paulo e a Mónica, todos unidos pelo silêncio, só a Ana e a Marta é que quiseram falar. A voz de Marta tremia e os seus braços procuravam pouso, não era um peixe fora de água, mas uma espécie de contrário disso, Marta parecia uma gata atirada ao rio, aflita nas ondas. Meio sol entrava pela janela do velho São João Novo. Os reflexos trémulos do Douro, lá em baixo, iluminavam a colina.

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Roubaram o colar da mãe

Uma senhora de 72 anos, acamada, sofrendo há muito de esclerose múltipla. Há quatro anos partiu o colo do fémur e os filhos contrataram um serviço de cuidadoras de um hospital. Vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, o ano inteiro. Uma dessas cuidadoras, Clara, está no banco dos réus. Calada desde o início. Não fala, não se defende. Acusada de ter furtado um grande colar de ouro, o mais valioso objecto da sua doente. Além das cuidadoras havia Margarida, empregada mais antiga da casa, que fora de fim-de-semana na sexta-feira. Conta a filha da doente:

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Uma gola e muitas greves

Eu gostava muito de vos dizer como terminou o caso da camisola de gola e do cinturão da farda da PSP. A senhora guarda parecia uma mulher-polícia ou via-se apenas uma tipa mal-educada a gritar à porta do hospital? Os dois irmãos foram bem detidos ou vítimas de uma "abordagem violenta e provocadora da agente", como disse a advogada de defesa? Pois, queria muito dizer-vos o fim da história, mas fui uma, duas, três vezes ao tribunal, para este e outros casos, e bati sempre com o nariz na parede das greves dos funcionários judiciais. Sessões, actos, sentenças, tudo adiado, e o monte de 8000 atrasos de processos a crescer e também este vosso Levante-se o Réu faz uma espécie de paralisação. Tenho esse direito e fico-me pelos serviços mínimos. Mas o caso é interessante, é interessante.