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Eu gostava muito de vos dizer como terminou o caso da camisola de gola e do cinturão da farda da PSP. A senhora guarda parecia uma mulher-polícia ou via-se apenas uma tipa mal-educada a gritar à porta do hospital? Os dois irmãos foram bem detidos ou vítimas de uma "abordagem violenta e provocadora da agente", como disse a advogada de defesa? Pois, queria muito dizer-vos o fim da história, mas fui uma, duas, três vezes ao tribunal, para este e outros casos, e bati sempre com o nariz na parede das greves dos funcionários judiciais. Sessões, actos, sentenças, tudo adiado, e o monte de 8000 atrasos de processos a crescer e também este vosso Levante-se o Réu faz uma espécie de paralisação. Tenho esse direito e fico-me pelos serviços mínimos. Mas o caso é interessante, é interessante.
Ouça o Levante-se o Réu
Um irmão e uma irmã sem qualquer registo criminal foram buscar a mãe à porta do Hospital de São José, mas acabaram na esquadra. Ela, por agressão a agente da autoridade, um crime na forma agravada, ele, por injúrias. Mas defendem-se: nem sequer percebemos que aquela senhora era da polícia, não parecia, não vestia, não falava como polícia!
Quando entrei na sala de julgamentos, em meados de Janeiro, estavam no banco dos réus, com ar de enterro. Na plateia, aguardava uma mulher de rabo-de-cavalo negro. Ouvia as alegações da advogada de defesa e era bom que ouvisse, porque faziam sentido. Vou recuperar, em voz acelerada, frases desta defesa:
"Era uma situação corriqueira, o arguido João, na sua viatura, ir buscar um familiar ao hospital perto da hora de saída. E isto era feito com alguma frequência. A senhora assistente [a guarda da PSP] até confirmou isso, de que há efectivamente ali viaturas que param para ir buscar familiares. Estamos aqui também a falar de uma altura de
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pouca movimentação na rua. Este carro faz uma manobra, pára perto do passeio, mas a verdade é que depois os arguidos são detidos, são levados para uma esquadra. E uma paragem de uma viatura que, naquele sítio, era por breves minutos, acaba por ficar lá por várias horas!
Depois há a abordagem. Disse a guarda que disse "Boa tarde, não pode estar aqui parada". Mas foi uma abordagem muito mais agressiva que ela fez. E o fardamento. A questão da tal camisola de gola que estaria numa portaria de 2016 que já nem é a portaria actual do fardamento, que é uma camisola mais justa. Mesmo que estejamos a falar de uma gola, eu perguntei a várias testemunhas o que é para elas um fardamento da PSP. E as testemunhas vão referindo: as calças escuras, o pólo azul claro e um blusão a dizer polícia, com várias insígnias, o nome, até o tipo de sangue agora trazem, portanto tudo isso referem, não referem outro tipo de fardamento. Aliás, até o senhor agente António diz que era um fardamento mais escuro que já não está em uso! E há a situação do cinturão. Nunca foi referido qualquer cinturão. Chegamos a esta fase e ficamos a saber que a senhora agente tem afinal um. Um cinturão
com arma e um cassetete é coisa que faz algum volume, só quem nunca tenha reparado é que não vê que faz volume."
A advogada suspirou: "Eu não estava à espera que a senhora guarda viesse confirmar a versão de que tivesse efectivamente apertado os seios da arguida. Aqui é a versão de uma contra a outra. Mas só assim se explica a reacção da arguida. Só essa invasão da intimidade da arguida é que justifica o pontapé no sentido de afastar a guarda. Como é que, com uma abordagem destas, podia estar a pensar que a outra senhora era agente? E depois caem para o chão, envolvem-se, o senhor arguido sai do carro. Então ele, que era irmão, vendo que havia ali uma arma, não teria dito à irmã: olha que está aí uma arma!? E o irmão estava com o braço ao peito. Eu já lhe disse: ainda bem que tinha o braço ao peito!" A juíza, no fim das alegações, decidiu que precisava de ver a bendita camisola. Isto é, ver se aquela gola parece farda policial... Só que, no dia marcado - eu estive lá - recomeçaram as greves, ninguém viu a camisola, não se soube nova data e o resto já vos contei. Que isto desencalhe num mês qualquer, que não é vida nem justiça para ninguém.
O autor escreve de acordo com a anterior ortografia