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1. Fausto Pinto é diretor da Faculdade de Medicina de Lisboa.
Em 2015, ganhou por um único voto a Maria do Carmo-Fonseca - legitimamente, mas por um único voto.
Nestes últimos anos, alavancado pela faculdade, tem prosseguido de vitória em vitória. Quem o conhece define-o como ultra ambicioso, pragmático e implacável na comunicação.
De facto, passear pelo seu site é deveras elucidativo.
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Fausto Pinto é um poder à margem dos poderes. Surge em centenas de fotografias, aparece com figuras influentes, dá palestras em países vários e é protagonista de beberetes com diplomatas, políticos e empresários.
Naquele site autocontemplativo, a Faculdade de Medicina de Lisboa confunde-se com o seu nome, com a sua figura, com a sua ambição.
2. Há um dado importante.
Fausto Pinto é reconhecido como um excelente médico pela generalidade dos cardiologistas.
No princípio do ano passado foi eleito para a presidência da World Heart Federation, estrutura de influência entre os cardiologistas europeus.
Alia por isso um par de características que dificilmente se encontram na mesma pessoa: excelente clínico e excelente político.
3. Não tenho nada contra.
No entanto, escrevo este postal por achar que a sua candidatura a bastonário da Ordem dos Médicos é uma vergonha.
Não por ser incompetente, mas por ter dado mostras recentes de uma tendência gritante para a amoralidade.
4. Mas será o excesso de ego e a terrível vaidade razões suficientes para a minha relutância?
De maneira nenhuma. Há homens e mulheres que marcaram o seu tempo e eram insuportáveis de vaidade e egocentrismo.
O problema foi o que aconteceu no final do ano passado, na abertura do ano da Faculdade de Medicina.
Lembram-se?
Fausto Pinto, poucos meses depois de ter sido condecorado com a medalha de sócio honorário da Sociedade Brasileira de Cardiologia, a que somou outros prémios, convidou, em nome da Faculdade, o ministro da Saúde de Jair Bolsonaro.
5. Falo de Marcelo Queiroga.
O ministro que a comissão parlamentar de inquérito no parlamento brasileiro recomendou que fosse indiciado por dois crimes: o de prevaricação e o de epidemia com resultado de morte - neste último caso a moldura penal vai até 15 anos de prisão.
Marcelo Queiroga negou mortes, negou máscaras, negou confinamentos e ficou conhecido no Brasil como o "ministro da morte".
Foi este homem que Fausto Pinto convidou para falar numa conferência de abertura do ano letivo dos estudantes de medicina.
E fê-lo, repito, poucos meses depois de ter estado no Brasil a beber flûtes de champanhe a receber honrarias com o patrocínio do homem que convidou a seguir.
5.
Para meu espanto continuou no lugar.
Mas para meu maior espanto anunciou ontem a sua candidatura a bastonário da Ordem dos Médicos.
"Mon Dieu"
"Meu Deus"
"My God"
Será mesmo verdade?
Os médicos têm a palavra, mas a realidade prova-nos todos os dias que para ela não há limites.
E por isso não me custa a aceitar que Fausto Pinto será escolhido pelos seus pares como bastonário.
Será a cereja no topo do bolo neste tempo em que tudo parece possível.